Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Pouco mais de dois anos depois de iniciar um novo capítulo em seus quase 85 anos de história, a fabricante de celulares Motorola tenta, novamente, se reinventar. É a segunda vez que a companhia protagoniza um recomeço, nos últimos anos.
Sob o controle do Google, a Motorola quer firmar-se como uma opção à Apple e à Samsung, as líderes do mercado de smartphones. “A Motorola também já foi chamada de imbatível”, disse John Carney, vice-presidente global de vendas da Motorola, ao Valor. Segundo o executivo, as operadoras têm que lidar com custos altos de subsídio para vender aparelhos como o iPhone e a linha Galaxy. “Queremos ser uma opção a isso”, disse Carney, que planeja apresentar às teles condições melhores de negociação.
O primeiro passo foi dado em 1º de agosto, com o lançamento do Moto X, nos EUA. Primeiro aparelho desenvolvido com apoio do Google, sua principal característica é a integração com os serviços da companhia de internet. O sistema de busca Google Now, por exemplo, pode ser acionado por um comando de voz mesmo que o celular esteja longe da mão. Basta dizer uma frase como “OK Google Now”. Isso acontece porque os microfones do aparelho ficam sempre ativos monitorando o ambiente, à espera de um chamado. Em modelos futuros, mais integrações serão exploradas, disse Carney.
Em sua nova estratégia, a Motorola quer ter desde aparelhos mais baratos até os mais caros. A ideia é não lançar muitas opções em uma mesma faixa de preço para não ter um portfólio difícil de administrar. Sobre tablets, Carney disse que os dispositivos estão nos planos, mas ainda não há nada previsto no curto prazo.
A área de celulares da Motorola tornou-se uma empresa independente em janeiro de 2011, quando a companhia foi dividida em duas: Motorola Mobility, de celulares, e Motorola Solutions, de infraestrutura de telecomunicações. Em agosto daquele ano, a Mobility foi comprada pelo Google. O negócio foi concluído em maio de 2012. A operação foi vista como uma forma de o Google acessar o portfólio de patentes da fabricante e colocar seus pés no mercado de dispositivos. Desde que se juntou à empresa de internet, a Motorola passou por grandes mudanças. O número de funcionários caiu de 15 mil para 4,6 mil e a empresa vendeu a área de produtos de conexão à internet e decodificadores de TV paga.
A Motorola já foi a maior fabricante de celulares do mundo, mas perdeu o rumo quando o mercado evoluiu para smartphones. Com problemas internos e uma competição crescente, a empresa perdeu espaço. Para se ter uma ideia, do parque de 1 bilhão de celulares da marca vendidos mundialmente na última década, no 1º trimestre deste ano restavam apenas 66 milhões de aparelhos em operação.
As vendas também encolheram de um patamar de US$ 8 bilhões em 2010 para pouco mais de US$ 4 bilhões no ano passado. No 2º trimestre deste ano, a companhia registrou prejuízo 70% superior ao do mesmo período de 2012, resultado da elevação nos custos. No período, a fabricante representou 7% da receita do Google. Carney disse que o objetivo é colocar a Motorola no azul novamente, mas não revelou em que prazo.
Para o executivo, as aparentes desvantagens do encolhimento da Motorola podem ser, na verdade, “um copo meio cheio”. “Não temos um legado, ou modelos anteriores que apresentem quedas nas vendas com o lançamento de um novo”, disse.
Sob a égide do Google, a Motorola tem acesso ao caixa e a toda a estrutura de investimento da empresa de internet. Além disso, não precisa detalhar suas operações a acionistas a cada trimestre. Isso permite que a fabricante seja mais agressiva em sua estratégia.
Mas conseguir um lugar ao sol no mundo dos smartphones não é fácil. Hoje, os lucros do setor estão concentrados nas mãos de Samsung e Apple – mais de 100%, no total, segundo análise do banco canadense Cannacord – enquanto algumas dezenas de outros fabricantes disputam ferozmente as vendas de aparelhos mais baratos, equipados com o sistema operacional Android, do Google.
Para especialistas, o relacionamento com os parceiros – especialmente a Samsung, maior vendedora de aparelhos Android do mundo – será um dos grandes desafios para o Google. Ainda não está claro como a empresa de internet pretende trabalhar com a linha de produtos Nexus, que tem aparelhos fabricados por outras empresas e vendidos pelo Google. “Não recebemos nenhum tratamento especial por parte do pessoal [desenvolvedores] de Android”, disse Carney, referindo-se à Motorola.
Hoje, a fabricante promove um evento em São Paulo para anunciar a chegada do Moto X ao Brasil. Durante a pré-venda, nas próximas duas semanas, custará R$ 1,8 mil – mais barato que o Galaxy S4 e o iPhone 5. Por enquanto, o Brasil não receberá o serviço Moto Maker, de personalização de itens como cor e capacidade de memória. Sergio Buniac, vice-presidente da Motorola Mobility para a América Latina Sul, disse a empresa tem avaliado a expansão do serviço além dos EUA a partir de 2014. Para Carney, o Brasil sempre foi e continua a ser um mercado importante para a Motorola; só perde para os EUA.
Do Valor Econômico