Por Daniele Madureira | De São Paulo
A palavra inovação geralmente sugere pesquisas avançadas em áreas como medicina e engenharia espacial, mas o resultado concreto do trabalho de muitos pesquisadores pode estar bem mais perto das pessoas comuns – na cozinha de casa e até na área de serviço.
É o caso de um ferro pressurizado da Philips que pode ser deixado até cinco minutos sobre a peça de roupa, sem queimá-la. Ou de um aspirador de pó da Electrolux cuja escova de fibras eletrostáticas “suga” a sujeira dos cantos mais difíceis. A Brastemp criou um fogão se comunica com o sistema Wi-Fi da casa e avisa o cozinheiro, pelo smartphone, quando o prato está pronto. E uma panela batizada com o nome do “chef” Jamie Oliver, também da Philips, usa um braço motorizado para movimentar o alimento, permitindo que o mestre-cuca faça outras tarefas enquanto a comida está no fogo.
Essas novidades saem de centros de pesquisa e desenvolvimento nos quais tecnologia e design não são os únicos itens considerados. Para os especialistas é igualmente importante levar em consideração as mudanças de comportamento do consumidor.
No Brasil, a exemplo do que já ocorre nos Estados Unidos e na Europa, uma das maiores preocupações é criar produtos que permitam à classe média se virar sozinha em casa, à medida que as empregadas domésticas e diaristas ficam mais raras. Em média, os fabricante de linha branca e eletroportáteis estão direcionando entre 6% e 7% do faturamento global para criar esse tipo de inovação.
“A nova legislação para a contratação de empregadas domésticas está mudando o jeito como os consumidores cuidam da casa e eles mesmos passam a assumir mais tarefas”, afirmou ao Valor o vice-presidente da divisão de consumo da Philips, Cyro Gazola. Em abril, foi sancionada uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que ampliou o direito trabalhista das domésticas, tornando mais caro o serviço dessas profissionais.
A Philips instalou no Brasil um de seus quatro centros globais de desenvolvimento de produtos. Os demais estão em Amsterdã (sede da empresa), Xangai e Nova Déli. A companhia investe em inovação 7% do seu faturamento anual, de € 24,8 bilhões em 2012. No centro de pesquisas brasileiro, localizado em Varginha (MG) e anexo à fábrica da companhia, estão em gestação criações voltadas aos mercados emergentes, como a linha Daily, de eletroportáteis com preços mais competitivos. A companhia investiu R$ 20 milhões na ampliação da fábrica no ano passado.
O interesse do público nos processadores – aparelhos que picam, ralam, trituram, batem massa e têm função de liquidificador – é visto como um indicador dos novos donos de casa em busca de facilidades. “As vendas mais que dobraram no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado”, disse Gazola. No fim de 2012, chegou a faltar produto no mercado. As mudanças nos processadores envolvem até a concepção de modelos mais “enxutos”, que ocupem menos espaço na cozinha.
Com o ferro pressurizado, a Philips pretende inaugurar uma nova categoria no país. O produto usa uma tecnologia batizada de Optimal Temp, que garante temperatura única para todos os tipos de tecido. “O ferro passa duas vezes mais rápido comparado a um convencional”, afirmou Gazola.
Para Adriana Gimenes, gerente de produto da Electrolux, uma característica fundamental é que os novos produtos tenham um uso intuitivo. “Ninguém quer perder tempo lendo manual”, disse a executiva. Com a panela elétrica de pressão Chef, a empresa quer conquistar consumidores que evitam a panela de pressão por medo que ela exploda. O produto tem nove dispositivos de segurança e oferece funções adicionais, como cozinhar, fritar, refogar, preparar molhos e aquecer. É possível programá-la até 99 minutos antes do início do cozimento. Depois de concluído o preparo, a panela passa automaticamente a aquecer o alimento, por até 12 horas.
A Electrolux mantém um centro de desenvolvimento e pesquisa em Curitiba, onde a atenção é concentrada em produtos com preços mais competitivos. “Foi em Curitiba que desenvolvemos o liquidificador com lâminas removíveis, para não machucar o consumidor, uma ideia que hoje é exportada para outros países”, disse Adriana.
Na Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, cerca de um quarto das vendas no Brasil vêm de produtos considerados inovadores, lançados há um ano. Uma das maiores apostas da empresa em 2013 é o fogão conectado. O usuário baixa um aplicativo no seu smartphone, pelo qual tem acesso a 38 receitas. Esse conteúdo é transferido para a “memória” do fogão, via rede Wi-Fi. O consumidor seleciona a receita por meio do painel com tela sensível ao toque e o fogão já sabe quanto tempo precisa para pré-aquecer, assar, gratinar e desligar.
Cada fase é informada, via smartphone, ao usuário, que também pode memorizar no eletrodoméstico seu jeito preferido de fazer uma receita, como o tempo certo para dourar, por exemplo.
Esse é o segundo produto da marca com o conceito de conectividade. No ano passado, a empresa lançou um refrigerador da Brastemp dotado de uma “central inteligente”, que permite gerenciar a validade dos alimentos, além fazer e compartilhar listas de compras por meio de um aplicativo. O refrigerador gera um “QR code”, um espécie de código de barras, que é lido pelo smartphone. O aplicativo permite gravar os telefones de serviços de entrega, entre outros, eliminando os ímãs de geladeira.
Neste mês, a gaúcha CS Eletro vai lançar na Eletrolar – feira de eletrodomésticos e eletroeletrônicos que será realizada entre os dias 15 e 18, em São Paulo – um varal comandado por controle remoto: o produto tem luz, ventilador (para ajudar a secar a roupa) e traz, em uma de suas versões, uma lâmpada germicida para esterilizar as roupas. Além disso, o varal desce a até um metro do chão. “É prático principalmente para os mais velhos, que não precisam se esforçar”, disse o diretor da CS Eletro, Roberto Fagundes. As crianças não vão se pendurar no produto para brincar. “O varal para de subir se houver esse tipo de pressão”.
Do Valor Econômico