Por João Luiz Rosa | De São Paulo
Em meados do mês passado, a Apple renovou boa parte de sua linha de produtos, com o barulho característico de seus anúncios globais. Apresentou um novo iPad, lançou a terceira geração do iPad Mini, mostrou um iMac com tela de altíssima resolução e deu gás ao Mac Mini, que estava meio esquecido. Também não se esqueceu dos softwares e liberou para os usuários seu mais recente sistema operacional, o Yosemite.
Os novos produtos não fogem à tradição da companhia americana: são bonitos, bem construídos e cercados de um aparato de marketing a que é difícil resistir. Mas também são caros, especialmente no Brasil, e a maioria deles não traz mudanças radicais em relação aos antecessores. Ou seja, os avanços mostrados pela Apple são inegáveis, mas justificam a compra dos equipamentos recém-lançados?
Tome-se o iPad Air 2, que ainda não tem data de lançamento no Brasil. O novo tablet é o mais fino já feito pela Apple. Tem 6,1 milímetros de espessura, contra os 7,5 milímetros do iPad Air original, lançado há um ano. O peso também diminuiu: o modelo exclusivamente Wi-Fi, que pesava 469 gramas, agora tem 435 gramas. Não deixa de ser um esforço de engenharia considerável, ainda mais porque as demais dimensões do aparelho continuam as mesmas, inclusive a tela de 9,7 polegadas. É de duvidar, porém, que 1,5 milímetro e 32 gramas a menos sejam perceptíveis a ponto de motivar a compra.
O iPad Air 2 tem uma câmera traseira melhor – a resolução aumentou de 5 para 8 megapixels – e um processador mais rápido que o de seu antecessor. Mas mesmo isso não parece decisivo. Por causa do tamanho, é muito mais fácil fotografar com um smartphone do que com um tablet. Quanto ao chip A8X, usado no iPad Air 2, a opinião dos analistas internacionais é que o processador melhora o desempenho geral do equipamento, mas as mudanças mais perceptíveis estão nas aplicações gráficas, como jogos de videogame ou softwares para edição de vídeos. Se você não é um usuário frequente desses tipos de aplicativo, pode não notar muita diferença.
A decisão de comprar ou não o iPad Air 2, portanto, vai depender do tablet que você tem em casa. O consenso entre os analistas é que quem já tem um iPad Air não vai se beneficiar muito da mudança. Melhor deixar como está. Já quem é dono de equipamentos mais antigos, o que inclui a maior parte das gerações do iPad tradicional, poderá fazer um bom negócio. Mas isso, em parte, por causa das mudanças que a Apple já tinha feito no ano passado, com o iPad Air.
É exatamente o contrário do que se recomenda quando o assunto é outro lançamento da Apple: o OS X Yosemite, novo sistema operacional para computadores Mac. Atualize o software se você tem uma máquina recente, mas pense duas vezes se o seu Mac é mais antigo. Esse cuidado, é preciso reconhecer, não se aplica só ao software do Apple. De maneira geral, os sistemas operacionais incluem mais funções a cada edição, o que exige uma capacidade extra de processamento do computador. Máquinas mais antigas podem ficar lentas ou não oferecer todos os recursos disponíveis.
No caso do Yosemite, essa é uma questão sensível porque o software integra a estratégia da Apple para construir uma ponte entre seus dispositivos móveis, que usam um sistema diferente, o iOS, e os computadores Macintosh. Quem tem um Mac com Yosemite e um iPhone ou iPad com iOS 8 – o sistema móvel mais recente da Apple – pode começar uma tarefa em um aparelho e terminá-la em outro. Chamadas para o iPhone, por exemplo, podem ser atendidas no Mac. O computador recebe uma notificação, com nome, perfil e foto da pessoa que está chamando. Ao clicar no aviso, começa a conversa no viva-voz pelo computador. O mesmo ocorre com mensagens de texto.
Outros atrativos estão disponíveis, a começar pelo fato de que o Yosemite está disponível para download na internet sem custo. Isso mesmo, de graça.
A integração de sistemas é importante para a Apple porque, entre outros motivos, muitos consumidores só compraram um Mac e deixaram o mundo Windows, da rival Microsoft, depois de se tornar usuários do iPhone, do iPad e, anteriormente, do iPod. No trimestre encerrado em setembro, o Mac gerou vendas de US$ 6,63 bilhões, tornando-se a segunda maior fonte de receita da Apple, atrás do iPhone.
O smartphone, aliás, também foi renovado recentemente, com a apresentação dos modelos 6 e 6 Plus em setembro. No Brasil, os aparelhos entraram em pré-venda na semana passada e começam a ser vendidos oficialmente no dia 14. Os preços começam em R$ 3.199 para o iPhone 6, e em R$ 3.599 para o iPhone 6 Plus. O modelo mais caro custa R$ 4.399. As operadoras vão conceder descontos, em pacotes atrelados à venda de serviços.
Quanto ao Mac, o computador ganhou uma atualização aos 30 anos de idade, com o iMac com tela Retina 5K. Como outros produtos da Apple, o iMac ditou tendência no mercado. Ao sumir com o gabinete e integrar todos os componentes no monitor, a companhia estabeleceu o conceito do tudo-em-um nos micros de mesa, hoje seguido pela maioria dos fabricantes.
A maior novidade do novo iMac é sua tela Retina, uma palavra patenteada pela Apple e que significa uma tela tão boa que o usuário não consiga ver os pixels das imagens. A tecnologia já era usada em outros produtos da empresa. A resolução depende do tamanho da tela. No caso do iMac, a tela de 27 polegadas é 5K, ou sete vezes melhor que as telas de alta definição (HD).
A qualidade da imagem, somado às outras melhorias nas configurações do computador, torna o iMac Retina 5K um desktop imbatível, mas nem por isso uma compra certa. Enquanto nos Estados Unidos, o modelo básico custa US$ 2.499, no Brasil, onde já está disponível, o equipamento sai por R$ 13.999. É de fazer hesitar até o mais convicto “macmaníaco”.
Do Valor Econômico