Por Daniele Madureira | De São Paulo
Eles têm tela maior que a de um celular, pesam em média 600 gramas – muito menos que os dois quilos da maioria dos notebooks – e são equipados com telas sensíveis ao toque, que permitem um uso muito mais intuitivo que os tradicionais mouse e teclado. Tudo isso colocou os tablets entre os aparelhos favoritos para consumir conteúdo e acessar a internet. Agora, à medida que se disseminam, esses dispositivos começam a expandir suas fronteiras originais e ganhar novas funções, muitas vezes inusitadas, em áreas como saúde, educação e segurança. Os equipamentos têm outro ponto a favor: os modelos mais vendidos custam bem menos que um laptop.
Segundo a consultoria IDC, foram vendidas mais de 3 milhões de unidades de tablets no país em 2012, quando o preço médio do equipamento caiu 31% em relação a 2011. Hoje, 44% das vendas são de aparelhos com preço inferior a R$ 500. Neste ano, a demanda por tablets vai ultrapassar a de computadores convencionais no Brasil, prevê a IDC.
A educação é uma das novas áreas mais férteis. No Sistema Ari de Sá de Ensino (SAS), em Fortaleza, o tablet chegou à sala de aula em caráter experimental no ano passado. Atualmente, está nas mãos de 820 alunos do ensino médio e da 9ª série do ensino fundamental, que representam 20% dos alunos dessas séries. Cada pai compra o aparelho do filho, mas a escola estuda adquirir os dispositivos a partir do ano que vem. “Estamos conversando com alguns fabricantes. Para ser usado em classe, o aparelho deve ter características específicas”, disse Andrey Lima, gestor de tecnologia do SAS. O tablet precisa ter no mínimo tela de 9,7 polegadas, autonomia de seis horas e meia e não pode acessar a internet por meio da rede 3G de telefonia móvel, para evitar que os alunos fiquem navegando na web em horários não autorizados.
Neste ano, a escola adotou um material didático interativo. O aluno acessa vídeos, arquivos de áudio e jogos educacionais, além de enviar, on-line, questões para professores e coordenadores ao fim de cada lição. “O professor tem uma senha de acesso à rede Wi-Fi em sala de aula, que é aberta em momentos específicos”, disse Lima. Cada aluno entra na rede com sua credencial e senha, o que permite que o seu acesso seja monitorado. Na escola, quem esquece o tablet recebe uma punição, assim como quem esquece de levar apostila.
Segundo Lima, o objetivo do SAS é estender o uso do tablet no médio prazo para todas as faixas etárias. As crianças de dois a seis anos já começaram a usar o tablet em aula, uma vez por semana. A partir de 2014, os alunos terão a oportunidade de participar de fóruns on-line, em aula, com colegas e professores.
No Centro Educacional La Marelle, em Guarulhos, quem usa os tablets não são os alunos, mas seus pais. A escola, que atende crianças de dois a seis anos de idade, tem um sistema de monitoramento por câmeras com acompanhamento via internet. Foi esse sistema que convenceu a consultora de vendas Daniele Beltrão a matricular a filha, Eduarda, no La Marelle. “Com o tablet, posso dar uma espiada nela a todo momento, ter a segurança de saber onde ela está e quem está por perto”, disse Daniele, que paga R$ 400 para manter a filha no La Marelle, por meio período. “É quase 30% do meu salário, mas vale a pena.”
A pedagoga Edna Felipe da Silva, diretora do La Marelle, pretende replicar o sistema de monitoramento por câmeras na segunda unidade do centro educacional, a ser aberta no ano que vem. “Inauguramos o centro educacional há um ano e meio e já atingimos a capacidade máxima, de 60 crianças”, disse Edna, que contou com a ajuda do Sebrae-SP para identificar um serviço capaz de diferenciar seu negócio das demais escolas de educação infantil.
Os pais têm acesso a seis das 12 câmeras instaladas na instituição. Por meio do site da Vigiseg, a empresa de segurança contratada pelo La Marelle, os pais conseguem acompanhar, a partir de login e senha próprios, o que se passa nas salas de aula, na brinquedoteca, no pátio externo, na área de atividades e no refeitório.
Da escola para casa, a Alpha-Digi, de sistemas de monitoramento por vídeo, lançou no mês passado um serviço que permite ao usuário controlar a distância, pelo tablet ou smartphone, o sistema de segurança da residência. “Quando você chega em casa ao fim do dia, não tem certeza do que espera do lado de dentro”, afirmou o diretor da Alpha-Digi, Luiz Gonzaga Corrêa Santos. Pelo sistema, é possível acender as luzes da casa e abrir o portão, sem sair do carro. Câmeras instaladas na residência e acopladas ao sistema de alarme transmitem as imagens ao tablet. Também é possível acompanhar a movimentação em até 16 locais diferentes na residência. O sistema custa cerca de R$ 2 mil.
Na Axismed, quem é monitorado é o paciente. A empresa, especializada no acompanhamento de pacientes crônicos, foi comprada pela Telefônica no início do ano. No mês passado, começou a oferecer a operadoras de saúde aparelhos como balança, medidor de pressão e medidor de glicose acoplados que se comunicam por tablets via Bluetooth. Os dispositivos enviam pela rede 3G as informações para a central médica.
“O software permite a interação com o paciente, através de questionários, e captura a medição dos aparelhos via Bluetooth”, disse Fábio de Souza Abreu, diretor da Axismed. O paciente só precisa apertar um botão no dispositivo acoplado ao aparelho de medição, que envia a informação ao tablet, que por sua vez a retransmite automaticamente à central.
“É um serviço que reduz custo para a operadora de saúde, ao evitar uma internação desnecessária”, disse Abreu. O executivo dá como exemplo um paciente com insuficiência cardíaca congestiva, que precisa de um rigoroso controle de peso. “Se essa pessoa engordar dois ou três quilos, pode ser um alerta. O médico intervém com uma alteração na medicação ou uma visita, para que a situação se regularize rapidamente.”
Neste mês, 40 pacientes atendidos pela Associação Brasileira dos Empregados em Telecomunicações (Abet), que administra um plano de saúde, começaram a usar o serviço remoto. Entre eles, está o aposentado Ezequiel Miranda Arantes, de 65 anos, que tem diabetes. Ele precisa fazer o controle diário da taxa de glicemia, com o glicosímetro. “Antes, marcava o resultado em um papelzinho, para apresentar ao médico na consulta. Agora, o resultado vai direto para a central médica”, disse Arantes, que não sentiu dificuldade em usar o aparelho. “Já fiquei vagabundo, não preciso anotar nada.”
Valor Econômico