Por April Dembosky | Financial Times
Depois que se tornou uma empresa aberta, o Facebook passou a ter a obrigação de prestar contas às autoridades reguladoras da privacidade. Mas, críticos temem que a companhia esteja tentando não levar tanto em conta os pontos de vista de seus usuários.
A rede social quer eliminar o outrora defendido direito dos usuários de votarem em questões que envolvem mudanças no uso de seus dados e políticas de governança, o que está provocando uma reação de defensores da privacidade. Hoje é o último dia em que os usuários poderão comentar a mudança proposta.
“Mark Zuckerberg vende o Facebook como uma ferramenta de estímulo à democracia, que ajuda a eleger um presidente e apoia revoluções, mas o último lugar em que ele quer ver uma revolução é na maneira como espreita seus usuários”, disse Jeff Chester, presidente do Centro para a Democracia Digital.
Sua organização e o Centro de Informações sobre a Privacidade Eletrônica (EPIC, na sigla em inglês) enviaram uma carta conjunta a Zuckerberg, o presidente-executivo do Facebook, na segunda-feira, exortando-o a retirar as mudanças propostas. Vários senadores americanos, congressistas e comissários da Federal Trade Commission (FTC) receberam cópias da carta.
Esses defensores dos direitos dos consumidores afirmam que as mudanças são um recuo nos compromissos assumidos pelo Facebook de envolver os usuários nas decisões referentes à administração do site e violam os acordos firmados com as autoridades reguladoras dos EUA, que dão aos usuários um maior controle sobre como seus dados são compartilhados.
O poder de voto dos usuários foi inicialmente previsto na Declaração de Direitos e Responsabilidades do Facebook, em 2009. O documento estabelecia um processo pelo qual os usuários tinham sete dias para comentar propostas de mudança na governança. Quando mais de 7 mil usuários faziam comentários, isso desencadeava uma votação. Quando mais de 30% deles votavam contra as mudanças, isso significava que elas tinham de ser abandonadas.
Na história do Facebook, só duas questões provocaram uma votação e nenhuma delas atingiu a marca de 30% para ser descartada, embora várias políticas tenham sido remodeladas por esse retorno dos usuários.
O Facebook está afirmando que o sistema de voto não é mais relevante, uma vez que a rede passou a ter 1 bilhão de usuários e agora é uma companhia aberta que presta conta às autoridades federais. Em 2011, a empresa chegou a um acordo em uma investigação sobre privacidade que estava sendo realizada pela FTC.
“Constatamos que o mecanismo de voto… na verdade resultou em um sistema que incentivava a quantidade de comentários em detrimento da qualidade”, disse Elliot Schrage, vice-presidente de comunicações do Facebook.
Em vez disso, a companhia propõe a manutenção do período de comentários de sete dias, mas substituir a votação por um site de perguntas e respostas monitorado por Erin Egan, diretor de privacidade do Facebook.
Marc Rotenberg, presidente do EPIC, disse: “O Facebook está substituindo uma urna de votação por uma caixa de sugestões”.
Chester sugeriu que as mudanças na redação da política do uso de dados têm a intenção de criar mais espaço para o Facebook recolher dados sobre seus usuários para incentivar os negócios de propaganda e agradar Wall Street.
Uma mudança na função Messages sinaliza para um desenvolvimento futuro de produtos que permitirá aos usuários enviar mensagens privadas, do tipo e-mail, para outros usuários. No momento, se as pessoas recebem uma Facebook Message enviada para múltiplos usuários, elas veem apenas as respostas daquelas com as quais estão oficialmente conectadas. A nova política diz: “Qualquer pessoa que estiver em uma corrente de mensagens pode responder a elas”.
A outra mudança permitirá ao Facebook usar dados entre seus principais negócios e suas “afiliadas”, incluindo escritórios fora dos EUA e companhias recém-adquiridas como o Instagram. (Tradução de Mário Zamarian)
Do Valor Econômico – 28/11