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Consumo de dados questiona modelo de cobrança

Tecnologia

Por Daniele Madureira | De São Paulo

A cada 60 segundos, em todo o mundo, 168 milhões de e-mails são enviados, 600 novos vídeos são postados no YouTube, 510 mil comentários são registrados no Facebook, 6,6 mil fotos são baixadas no Flickr, 98 mil “tweets” são transmitidos e 370 mil telefonemas são feitos pelo Skype.

O blá-blá-blá por meio de bits é incessante, como mostram os dados da empresa de pesquisa Heavy Reading, dos Estados Unidos, mas a receita decorrente de toda essa conversa digital ainda decepciona os provedores de serviços.

É um descompasso perigoso para os negócios. Para dar conta do crescente consumo mundial de dados, as empresas de telecomunicações estão investindo cinco vezes mais em dados do que em voz. Ainda assim, a receita é proporcionalmente inversa: as teles faturam cinco vezes mais com voz do que com dados, segundo uma pesquisa da americana Amdocs, fornecedora de softwares de gestão para operadoras de telefonia, feita em conjunto com a Heavy Reading.

Essa diferença, observam os especialistas, se deve à falta de um modelo de cobrança alinhado com o perfil de consumo do usuário. Em geral, os pacotes de dados são vendidos por “tamanho”, e não por tipo de uso. “A área de marketing das operadoras entende que poderia adaptar os produtos, adequar a oferta ao perfil de uso. Mas a empresa não conta com sistemas de tecnologia integrados o suficiente para oferecer isso”, disse o vice-presidente da Amdocs no Brasil, Nelson Wang.

De acordo com o executivo, para cobrar proporcionalmente tanto do usuário intensivo quanto do usuário padrão de internet, as companhias precisam de um sistema de tarifação integrado a um programa de controle de políticas de uso. Hoje, esses sistemas não se comunicam. A necessidade torna-se ainda mais premente com o advento da quarta geração de telefonia móvel (4G), baseada totalmente na internet.

Com o padrão 4G, há uma convergência muito maior de serviços, até então disponíveis principalmente na banda larga fixa, que passam a ser acessados em dispositivos móveis. A expectativa é que se torne cada vez mais comum a mensagem multimídia (MMS), uma evolução do SMS, com recursos como áudio e vídeo integrados. Mas nem todas as operadoras estão alertas para a necessidade de implantar uma nova tarifação – em especial, as companhias que atuam na América do Sul.

 Entre outubro e novembro do ano passado, a Amdocs ouviu 70 executivos de marketing e tecnologia de 35 operadoras de telecomunicações em quatro regiões: América do Norte, Europa, Ásia-Pacífico e América Latina (Brasil, México, Chile e Colômbia). Questionados se viam necessidade de integrar a política de controle de dados à tarifação, 60% dos entrevistados na América Latina disseram que não. Na Ásia-Pacífico, 20% deram essa resposta e, na América do Norte, apenas 10% não têm essa preocupação. Na Europa, 100% consideram esse passo uma necessidade.

“No continente europeu e na América do Norte, onde o 4G já está disseminado, as operadoras têm consciência da necessidade de cobrar pelo perfil do usuário de dados”, afirmou Wang. “A América Latina, e especialmente o Brasil, precisa atentar para essa nova política de cobrança, se não quiser ficar à margem da revolução do 4G, que traz paradigmas completamente novos de consumo.”

No Brasil, até o momento, apenas a Claro lançou comercialmente o serviço 4G em quatro cidades: Recife, Campos do Jordão (SP), Búzios e Parati (RJ). De acordo com o cronograma de instalação do 4G definido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), todas as cidades-sede da Copa das Confederações deverão contar com o serviço até abril. Em dezembro, o 4G deverá ter sido estendido a todas as cidades-sede e subsedes da Copa do Mundo de 2014. E até o fim 2014, as cidades com mais de 100 mil habitantes deverão contar com 4G.

A maioria dos entrevistados reconhece que a falta de um suporte adequado em tecnologia da informação limita as apostas em marketing, capazes de gerar diferenciação no mercado. Na América Latina, 60% dos entrevistados citam a capacidade de administrar transações em tempo real como um desafio a ser vencido para atender a uma demanda personalizada de serviços.

“Não basta oferecer o produto, é preciso monitorar o comportamento do usuário em tempo real”, disse Wang. Em geral, afirmou o executivo, o consumidor não sabe quanto está usando da capacidade da rede. “Alguém que tem [um pacote de] 10 megabytes de dados na rede móvel pode ser surpreendido com o aviso de que sua velocidade vai cair para 100 Kilobits por segundo depois de ter atingido o consumo total”, disse. Depois disso, o consumidor precisa ligar para um call center e pedir banda adicional. Se a operadora tivesse um sistema de administração de transações em tempo real, a questão seria resolvida rapidamente.

 

 Do Valor Econômico

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