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Com Windows 8, Microsoft tenta unir PC e dispositivo móvel

Tecnologia
Por Gustavo Brigatto | De São Paulo

Daqui a 30 dias, quando Steve Ballmer anunciar em Nova York o lançamento oficial do Windows 8, o novo sistema operacional da Microsoft, o executivo-chefe da companhia dará o que é considerado por especialistas seu passo mais ousado nos últimos anos.

Com o 8, a Microsoft tenta se adaptar a um mundo em que o PC – o principal motor de suas receitas nos últimos anos – deixou de ser o equipamento central para os consumidores ávidos por tecnologia. “Os smartphones e os tablets, liderados pelo iPhone e iPad, mudaram a forma como as pessoas trabalham, transformando o PC em mais um dos dispositivos que elas usam”, escreveu Michael Silver, analista da empresa de pesquisa Gartner, em relatório. Com o novo Windows, a Microsoft busca caminhos para ganhar a atenção do usuário.

O passo mais radical foi a reformulação gráfica do novo sistema operacional. Com o 8, a Microsoft apostou em grandes blocos que funcionam como atalho para os programas instalados na máquina. A abordagem não abandonou os ícones da área de trabalho. O visual tradicional do sistema continua presente e pode ser acessado como se fosse um programa na tela inicial do sistema.

Segundo Robin Goldstein, engenheira que participou do desenvolvimento do sistema nos últimos três anos, o objetivo da mudança foi deixá-lo mais preparado para dispositivos com tela sensível ao toque. De acordo com ela, isso trouxe um desafio adicional para a equipe envolvida na criação do sistema. “Recebemos o mesmo prazo que tivemos para criar o Windows 7, mas não sabíamos exatamente como seriam os equipamentos que iriam funcionar com o novo sistema no futuro [as telas sensíveis ao toque ainda eram uma tecnologia muito incipiente na época]”, disse Robin em entrevista ao Valor.

Na IFA, feira do setor de tecnologia que aconteceu no começo do mês em Berlim, Alemanha, fabricantes deram um sinal do que virá por aí: o formato tradicional de tablets e PCs, com teclado e abertura no estilo de concha, começa a dar lugar a formas híbridas.

O visual do Windows 8 faz parte do que a Microsoft batizou como interface Metro, um conjunto de características visuais que foram incorporadas aos produtos da companhia nos últimos anos. Dos menus do console Xbox 360, passando pelo sistema operacional para telefones Windows Phone e o pacote Office, toda comunicação da companhia foi atualizada para esse padrão. Até seu logotipo passou por uma revisão. Depois de 25 anos, a janela estilizada (que mais parecia uma bandeira esvoaçante) deu lugar a quatro blocos coloridos bidimensionais.

O objetivo da estratégia é deixar a aparência dos diferentes dispositivos mais parecida, o que torna seu uso menos complicado para o consumidor. A Apple tem essa prática com o uso do mesmo sistema para o iPad e o iPhone (o iOS), e a inserção de características desses dispositivos no Mac OS, para computadores.

Outra grande mudança promovida pela Microsoft foi a criação de uma versão do sistema específica para tablets. O Windows RT rodará apenas em equipamentos que funcionam com chips fabricados com tecnologia da inglesa ARM. Esses chips são usados em tablets com sistema operacional Android, do Google. Durante a IFA, algumas marcas também mostraram tablets equipados com o Windows 8 e chip ARM.

Desde o lançamento da primeira versão de testes do Windows 8, em fevereiro, o sistema tem recebido avaliações positivas de especialistas. O novo Windows vem se mostrando bastante estável e capaz de cumprir promessas que a Microsoft sempre faz no lançamento de uma nova versão do sistema: trazer mais facilidades de uso e reduzir o consumo de bateria nos dispositivos móveis.

Apesar da intensa competição com a Apple e o Google, o momento atual é positivo para a Microsoft. A companhia obteve sucesso de vendas com a versão mais recente do Windows, o 7, lançado em 2009, e também conquistou o mercado de videogames com o Xbox 360. Quando lançou o 7, a situação era bem mais complicada: seu antecessor, o Vista, recebeu uma avalanche de críticas e foi um fracasso de vendas.

Mas a fase menos vulnerável da companhia e as boas avaliações do Windows 8 não significam que a Microsoft verá uma adoção maciça e rápida do novo sistema. Pelo lado dos consumidores domésticos, a empresa de pesquisa IDC diz não acreditar que o lançamento do novo sistema e máquinas equipadas com ele vão impulsionar as vendas de PCs no fim do ano. Para Silver, do Gartner, as mudanças feitas no visual do Windows podem representar um fator de risco para as compras feitas pelos departamentos de tecnologia da informação das empresas, pelo custo da mudança e necessidade de treinamento. O analista destaca também o fato de muitas companhias ainda estarem no processo de adoção do Windows 7. No segmento de tablets, a Ovum avalia que um preço adequado será o fator decisivo para as vendas.

Do Valor Econômico

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