Por João Luiz Rosa | De São Paulo
Primeiro foram os disquetes, depois os CDs e DVDs regraváveis, seguidos dos pen drives e de seus primos maiores e mais potentes, os HDs externos. Desde que o computador pessoal começou a mudar a maneira de as pessoas trabalharem e se divertirem, começou também a busca por maneiras fáceis e seguras de preservar os aspectos mais importantes da vida digital – sejam as fotos das férias mais recentes ou a cópia de um relatório que consumiu noites de sono em branco ou fins de semana inteiros.
Agora, embora parte desses dispositivos continue útil, como os pen drives e os HDs, a internet está conduzindo essa busca a uma fase nova e completamente diferente das anteriores – o armazenamento de dados na nuvem.
Com a nuvem, os dados passam a ficar em computadores localizados em centros de dados espalhados ao redor do mundo, e são acessados pelos usuários por meio de uma série de dispositivos, que incluem PCs, tablets e smartphones.
Empresas especializadas ganharam força nos últimos tempos, depois que os usuários descobriram e aprovaram seus serviços nas lojas on-line de aplicativos, caso do Evernote e do Dropbox. Ao mesmo tempo, muitos grandes grupos de tecnologia e internet passaram a oferecer serviços próprios, incluindo o Google, a Microsoft e a Apple.
O resultado é uma ampla oferta de serviços disponíveis, vários deles em português. De largada, a vantagem para o usuário é que a maioria deles tem versões gratuitas, com planos pagos complementares. Ou seja, você começa a usar o serviço sem pagar nada e, se esgotar o espaço disponível, compra mais capacidade, pagando por mês ou por ano. É o conceito do “freemium” em ação: o usuário recebe serviços básicos gratuitamente, mas paga se quiser benefícios adicionais.
Outra facilidade é que os serviços, de maneira geral, estão livres das amarras tecnológicas. Você consegue acessar suas informações a partir de diversos aparelhos, não importando se eles usam sistemas operacionais diferentes ou se cada um deles é feito por um fabricante.
Entre os usuários, uma dúvida que ainda faz muita gente manter-se afastada da armazenagem na nuvem é a segurança. As questões mais comuns é se hackers não poderiam destruir as informações e se, eventualmente, o vírus de um determinado arquivo não poderia contaminar os outros dados da mesma conta.
A preocupação é legítima, mas parte dessa resistência se deve à mudança de comportamento proposta pela nuvem, dizem especialistas na área. “Cem anos atrás, as pessoas guardavam dinheiro no colchão com medo de que seu dinheiro desaparecesse no banco, onde ficava guardado em algum lugar, de maneira virtual”, afirma Fernando Teixeira, diretor de tecnologia e pré-vendas para a America Latina do Google Enterprise, uma divisão da gigante de buscas na internet.
Para evitar riscos, as companhias têm investido fortemente em tecnologias para garantir a integridade dos dados. “No nosso serviço, uma série de camadas de segurança testa o arquivo que o usuário pretende armazenar para evitar os vírus”, diz Teixeira. O programa de análises é permanentemente atualizado, para acompanhar o ritmo frenético de novas ameaças que aparecem na internet, afirma o executivo. Ao detectar uma ameaça, o programa limpa o arquivo antes de enviá-lo para a nuvem ou impede a operação, avisando o usuário.
Quanto à ação dos hackers, a tendência mais recente para proteger as informações é a chamada autenticação dupla. Além de pedir o nome de usuário e a senha para permitir a entrada em uma conta, o sistema envia mensagens para garantir que a pessoa seja, de fato, quem diz ser. “Funciona de maneira parecida com a dos tokens usados pelos bancos”, diz Eduardo Campos, gerente-geral de Office da Microsoft. O sistema cria uma chave temporária, com um código, que o usuário precisa transcrever antes de ter acesso aos dados. No SkyDrive, o serviço da Microsoft, isso pode ser feito por meio de um SMS enviado ao celular do usuário, um e-mail alternativo ou uma chamada telefônica na qual uma gravação informa o código. Existe também a possibilidade de baixar da internet um aplicativo autenticador.
Não há casos documentados de invasões em massa por parte de hackers para destruir dados armazenados na nuvem, mas a recomendação é sempre ser cuidadoso para evitar casos particulares. Um dos problemas mais comuns é o “phishing”. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando uma pessoa acessa sua conta de um computador público, como em um telecentro ou lan house. Se não limpar os dados, um hacker que se sentar no mesmo computador logo em seguida pode capturar as informações de acesso e entrar na conta para roubar dados, diz Teixeira, do Google. A empresa também adotou a autenticação dupla para evitar esse tipo de ameaça. “Uma nova chave é gerada a cada 15 segundos, o que impede a ação do hacker”, afirma o executivo.
Manter os dados a salvo não é o único atrativo dos serviços na nuvem. Com o acesso à internet cada vez mais disseminado, compartilhar tornou-se palavra de ordem no mundo digital. Isso significa tanto enviar aos amigos a foto que você acabou de tirar naquela praia dos sonhos, como permitir que os colegas de trabalho vejam – e modifiquem – um projeto que precisa ser concluído enquanto você está em viagem. Os celulares com o sistema Android, por exemplo, podem enviar instantaneamente para a nuvem as fotos feitas com o aparelho.
Cada usuário controla o que seus convidados podem ver de seus arquivos – e cabe ao dono da conta definir o que pode ser alterado por outras pessoas.
Para o usuário médio, a capacidade dos serviços gratuitos é suficiente para guardar seus tesouros digitais. Mas isso depende, claro, do que é guardado. Imagens em alta resolução, por exemplo, ocupam muito mais espaço que textos. Com o passar do tempo – e se o uso da nuvem tornar-se um hábito – é bem possível que o consumidor tenha de migrar para um pacote pago. Campos, da Microsoft, começou com 25 gigabytes (GB). Depois, adquiriu 100 GB adicionais e, mais tarde, outros 25 GB. Por enquanto, está satisfeito com seus 150 GB totais.
A boa notícia, diz o executivo, é que o custo da armazenagem na nuvem está ficando mais barato, obedecendo a uma lei típica da tecnologia – a de que as inovações começam custando caro, mas têm seu preço reduzido rapidamente à medida que mais pessoas adotam a novidade.
Os saudosistas podem ter saudade dos meios de armazenamento físicos – muitos deles a caminho de virar peças de museu -, mas a conveniência da nuvem parece um fator de convencimento indiscutível. “Outro dia deixei cair meu celular e a tela quebrou. O que eu fiz? Peguei um aparelho qualquer e acessei meus dados, que estavam na nuvem”, diz Campos, da Microsoft. “Imagine o que aconteceria sem a nuvem.”
Do Valor Econômico