Por Laura Johannes | The Wall Street Journal
Programa não cura deficiência, mas deixa cérebro mais capaz de interpretar informações recebidas de olhos cansados
Na presbiopia, popularmente conhecida como vista cansada, os músculos que modificam o formato do cristalino perdem a elasticidade com o passar da idade. A capacidade de focar objetos de perto se deteriora, resultando na necessidade de óculos de leitura.
O The Wall Street Journal analisou um programa de treinamento cientificamente testado, de 12 semanas, recentemente disponível como um aplicativo para o iPhone, que usa uma técnica chamada de aprendizagem perceptual para reduzir ou mesmo eliminar a necessidade de óculos de leitura.
Um estudo de 30 pessoas publicado em fevereiro de 2012, na revista “Scientific Reports”, revelou que depois de testar o aplicativo – agora à venda com o nome GlassesOff – os participantes podiam ler, em média, letras 1,6 vez menores que anteriormente. O programa tende a mostrar melhoras mais acentuadas em adultos entre 40 e 60 anos, dizem os cientistas.
O aplicativo auto-orientado, lançado nesta semana pela GlassesOff, começa com um teste de visão e depois um programa de treinamento personalizado, três vezes por semana, de 12 a 15 minutos por sessão. Em um dos testes, os usuários devem dizer se a letra “E” está virada para cima, para baixo, para a direita ou para a esquerda. O teste fica mais difícil quando o “E” diminui ou fica menos contrastante com o fundo. Ao fim da sessão, os usuários recebem uma avaliação personalizada de quanto o app poderá ajudá-los em várias tarefas, como ler um artigo.
O treinamento consiste em identificar imagens distorcidas e listradas, chamadas filtro de Gabor, que podem ser difíceis de enxergar contra um fundo de cor semelhante.
O aplicativo é gratuito por duas ou três semanas. Depois disso, custa US$ 59 por quatro meses. A empresa, que tem escritórios em Israel e Nova York, está cobrando o preço promocional de US$ 10 temporariamente. Depois do programa inicial, a empresa oferece um programa de manutenção personalizado de uma ou duas sessões por semana, cobrando taxa extra.
O aplicativo não cura a presbiopia, mas faz com que o cérebro fique “mais capaz de interpretar” as fracas informações que recebe de olhos envelhecidos, diz Dennis M. Levi, reitor da Faculdade de Optometria da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e um dos autores do estudo. Levi é consultor científico da GlassesOff e recebeu a promessa de ganhar opções de ações da empresa como compensação.
Qualquer um pode usar o produto, diz o diretor-presidente da GlassesOff, Nimrod Madar. Mas pessoas acima de 70 anos provavelmente ainda terão que usar óculos para leituras prolongadas e tarefas com pouca luz.
Usar o novo app “pode ajudar as pessoas a reconhecer melhor imagens levemente borradas, mas não vai mudar a elasticidade do cristalino”, diz James Salz, professor clínico de oftalmologia da Universidade do Sul da Califórnia.
A ideia de usar a aprendizagem perceptual para dificuldades de visão tem mérito científico, diz Peter J. Bex, neurocientista do Instituto de Pesquisa da Visão Schepens, em Boston, parte do Instituto de Visão e Audição de Massachusetts. Vários estudos científicos comprovaram a viabilidade do uso da aprendizagem perceptual para melhorar a visão, inclusive no caso de pessoas com olho preguiçoso. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas sobre o programa da GlassesOff – especialmente comparando o grupo de teste a um grupo que fez exercícios sucedâneos, dizem os cientistas.
Outra questão, segundo Bex, é que os resultados da aprendizagem perceptual às vezes só se aplicam de forma muito limitada às tarefas previstas no treinamento. A capacidade de ler letras pequenas pode melhorar, mas não está claro quanta diferença isso faz para pessoas em uma ampla gama de tarefas diárias.
Um estudo apresentado em julho na Conferência Ásia-Pacífico sobre Visão, realizado na China, revelou que o programa da GlassesOff melhorou o desempenho com relação a medidas, incluindo sensibilidade para contrastes, sugerindo que a melhora pode ser aplicada a uma ampla variedade de tarefas diárias, diz Madar.
Do Valor Econômico