Por Marli Olmos e João Rosa | De São Paulo
Não importa se você está numa bicicleta pelas ruas de Paris, preso dentro de um carro no trânsito congestionado de São Paulo ou a pé, em busca de carona em Tel Aviv. Mesmo que não more em nenhum desses lugares é possível sentir-se como se estivesse em casa. Basta ter um smartphone ou tablet. Cada vez mais comuns, aplicativos que facilitam a vida urbana também estimulam pessoas cansadas de ver problemas nas ruas a se unir em comunidades virtuais por causas que afetam a mobilidade.
Se o número de pessoas mobilizadas por redes sociais nos recentes protestos o impressionou, saiba que diversas comunidades circulam, silenciosas, pelas ruas do mundo. A maior parte dos aplicativos para trânsito permite troca de informações entre motoristas. Novos amigos virtuais poderão lhe contar que há uma blitze policial no caminho, aconselhá-lo a mudar de rota para evitar obras e até indicar o melhor restaurante local.
Quem diria que um dia seria possível ter acesso ao perfil do motorista do táxi que vai nos apanhar antes mesmo de o carro chegar? Já existem vários aplicativos que rastreiam táxis mais próximos. Depois de escolher o carro e receber a confirmação pela tela, é possível acompanhar a rota que o motorista escolheu para buscá-lo.
Quem paga pelo serviço é o taxista. Em São Paulo e no Rio, o motorista desembolsa R$ 2 em média por corrida. Em tempos de lei seca, os aplicativos de táxi já incluem até parcerias com bares. Uma empresa que atua em várias cidades lançou a promoção “Chegue de Easy Taxi e ganhe um drinque”.
Nos casos de serviços internacionais, os aplicativos para smartphones, tablets e web têm se aperfeiçoado ao ponto de a pessoa nem perceber que mudou de cidade, ou país. Basta ler o comentário de um usuário do City Bikes, serviço que rastreia as redes de bicicletas públicas: “O app funcionou muito bem em Dublin e parecia até que nada havia mudado quando cheguei em Paris”.
Vencedor de um recente prêmio para aplicativos urbanos, entre mais de 100 participantes de todo o mundo, o Colab nasceu em Recife e serve para denúncias como ruas esburacadas e outros problemas que afetam a vida de quem se movimenta nas cidades. Foi ao trabalhar numa campanha eleitoral que Bruno Aracaty e seus quatro sócios perceberam que muitos políticos desconhecem os problemas da cidade simplesmente porque não prestam atenção às redes sociais. “A internet dispõe da voz da população que não chega ao ouvido do gestor”, diz. Hoje, o Colab é até usado pelo Poder Público para identificar os problemas que mais perturbam a população.
Para quem fica na dúvida entre dirigir o próprio carro, tomar um ônibus ou pedalar para chegar a determinado destino, nada mais prático do que um aplicativo que calcula custo e tempo de viagem entre diversos meios de transporte. Esse serviço começa a aparecer com mais força em cidades desenvolvidas, onde existem ferramentas para, por exemplo, calcular o horário da chegada de um ônibus.
Em alguns casos, essas comparações incluem até serviço de carona. Já conhecido na Europa pelo nome de “car sharing”, a prática de dividir custos com combustível com alguém que segue o mesmo caminho tem dois inconvenientes: como calcular o custo do deslocamento e, principalmente, como combinar horários.
Há menos de um ano surgiu em Israel um aplicativo para solucionar esse problema. O BuzzJourney não só faz o cálculo do gasto, mas mostra na tela do celular onde estão tanto o carro do motorista disposto a dar carona como o candidato a passageiro, facilitando o encontro entre eles.
Para melhorar o serviço, Lior Harsat, o fundador do BuzzJourney, adicionou um mecanismo que sugere novos amigos com base em interesses comuns, como faz o Facebook e outras redes sociais. A diferença é que nesse caso o critério para sugerir a aproximação são hábitos de locomoção. “Essa é uma maneira de criar uma rede confiável de parceiros”, afirma Harsat.
Por enquanto, o sistema só funciona em Israel, mas Harsat está em busca de financiamento para levar o serviço a outros países. O desafio será proporcional ao nível de desenvolvimento de cada nação – muita gente no Brasil, por exemplo, teria receio de dar carona. Os formatos podem variar em cada país, mas a força da tecnologia na revolução da mobilidade dificilmente será contida.
Do Valor Econômico