Por Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa | Valor Econômico
Acessar a internet pelas redes sem fio com tecnologia Wi-Fi é um hábito cada vez mais comum entre os brasileiros. Os pontos de acesso, ou hotspots, tornaram-se presença frequente em estabelecimentos comerciais como restaurantes ou hotéis, ou mesmo praças e aeroportos. Em alguns locais, a rede sem fio é usada até como diferencial para atrair clientes.
Atualmente, existem seis mil pontos de acesso público à internet no Brasil, segundo estimativa do portal Teleco. Além dessa infraestrutura, há 68 mil hotspots operados por companhias de telefonia. Nos últimos dois anos, as teles têm investido em conexões Wi-Fi para desafogar sua infraestrutura tradicional – a instalação de roteadores Wi-Fi custa menos que a de antenas de celular – e oferecer mais qualidade no acesso à internet aos assinantes.
Apesar dos avanços na telefonia celular – com a propagação das rede de quarta geração ou 4G, que prometem velocidades de acesso de até 100 megabits por segundo (Mbps) -, o Wi-Fi continua a ser uma opção mais confiável.
A eficiência de uma rede depende de dois critérios: o volume máximo de informações que pode trafegar e o tempo que os dados levam de um ponto a outro. No primeiro caso, é possível comparar uma rodovia com várias faixas a outra, de uma faixa só. Essa medida é fácil de entender: um pacote de 1 Mbps oferece uma rodovia mais estreita que o de 5 Mbps e assim por diante. O segundo critério, chamado de latência, é a velocidade máxima permitida na via. De nada adianta ter uma pista larga se o limite de velocidade é baixo. Esse é o problema do 4G. A latência da tecnologia é maior – ou seja, a comunicação é mais lenta – que a das redes fixas, nas quais desembocam as conexões Wi-Fi.
Para montar uma rede sem fio em casa basta ter um serviço de acesso e um roteador. Configurar o equipamento não é tarefa para iniciantes, mas o trabalho está cada vez mais fácil. Em alguns casos, nem é preciso comprar o roteador. A própria operadora oferece o produto e manda o instalador na casa do cliente. Para quem prefere fazer tudo sozinho, ou quer substituir o equipamento oferecido pela sua empresa de internet, há muitas opções disponíveis no varejo. Por mês, são vendidos entre 300 mil e 350 mil roteadores no Brasil.
Antes de ir às compras, é preciso conhecer as principais características de cada equipamento e responder a algumas perguntas, como a quantidade de dispositivos que será conectada e qual será o perfil de uso de cada aparelho, diz Wagner Fontenele, diretor da fabricante americana Belkin para a América do Sul.
Estabelecimentos comerciais precisam tomar cuidados especiais com questões como privacidade e responsabilidade civil. Por exemplo, se o cliente de um restaurante usa a conexão Wi-Fi para invadir a rede de uma empresa ou cometer algum outro ato ilícito, o dono do estabelecimento pode ter problemas na Justiça.
Se a investigação chegar até a origem do acesso – no caso, o restaurante – pode ser exigido que o proprietário informe quem usou a rede sem fio em um determinado momento. Se não tiver esse registro, o empresário pode ser considerado negligente e condenado a pagar indenização a quem foi prejudicado.
Recentemente, uma lan house de São Paulo foi condenada a pagar R$ 10 mil a uma empresa que foi lesada a partir de uma rede sem fio do estabelecimento, conta o advogado Renato Opice Blum, especializado em direito digital.
Uma saída para evitar problemas e não dificultar o acesso é atrelar o uso da conexão ao perfil do usuário em redes sociais como o Facebook e o Twitter, diz Fernando Neves, diretor da AirTight, empresa de segurança em redes móveis. Embora ainda pouco usada, esse tipo de tecnologia já está disponível.
Como não errar na compra do roteador
Escolher o roteador para montar uma rede sem fio em casa não é uma tarefa simples. Mesmo quem tem um conhecimento mais avançado pode se complicar e acabar não comprando o modelo mais adequado às suas necessidades. São tantos os modelos disponíveis, com recursos e preços diferentes, que é necessária alguma dedicação para decifrar o que significa cada uma das funções disponíveis e como elas operam em conjunto. O produto ideal deve oferecer cobertura suficiente para o tamanho da casa e a melhor qualidade de conexão de acordo com o perfil de uso.
O primeiro item a considerar é a velocidade do equipamento. Hoje, os modelos mais vendidos no Brasil são os de 150 megabits por segundo (Mbps), que custam a partir de R$ 60. Mas já existem aparelhos com taxa de transmissão de até 1,8 gigabit por segundo (Gbps). Esse número não tem nada a ver com a velocidade de conexão à internet contratada pelo usuário. Ele representa a velocidade máxima com que dispositivos conectados a uma mesma rede podem trocar informações – por exemplo, se você quiser transferir fotos do tablet para o PC de seu filho, ou exibir na TV um vídeo que está no celular.
Não por acaso, os modelos mais velozes, com os recursos mais avançados, também são os mais caros. Os produtos com as tecnologias mais recentes podem custar entre R$ 700 e R$ 900.
A velocidade do aparelho é determinada, em parte, pelo segundo aspecto que se deve observar na hora de comprar um roteador: o padrão tecnológico usado pelo aparelho para transmitir os dados. Atualmente, a tecnologia mais difundida é a “N”. Com ela, os dispositivos conseguem atingir uma velocidade de até 450 Mbps com um alcance de sinal de cerca de 75 metros. Lançado há quatro anos, esse padrão começa a ser substituído pelo “AC”, que oferece velocidades de até 1,8 Gbps.
Roteadores funcionam como rádios e por isso ocupam uma frequência de comunicação. A maioria dos equipamentos usa a faixa de 2,4 gigahertz (GHz). É a mesma ocupada por telefones sem fio e fornos de micro-ondas, o que torna as interferências muito comuns. Para driblar isso, os fabricantes de roteadores passaram a usar também a faixa de 5 GHz. Por isso é bom procurar equipamentos do tipo “dual-band”.
Como um rádio, o roteador precisa de antenas para funcionar. Quanto maior o número delas, melhor a distribuição do sinal entre os dispositivos conectados ao aparelho. Os roteadores “AC” podem ter até oito antenas.
Para simplificar a escolha, Rodrigo Paiva, gerente de produtos da fabricante D-Link, resume o que fazer na hora de comprar o dispositivo. A dica é escolher o roteador de acordo com a velocidade do pacote de internet. Para uma conexão simples, de 1 Mbps, um modelo de 150 Mbps é o ideal. De 2 a 5 Mbps, modelos de 300 e 750 Mbps (com tecnologia AC) são os indicados. Para quem tem mais de 5 Mbps de conexão, o melhor seria investir em roteadores de 1,2 ou 1,8 Gbps.
Feita a escolha, não adianta chegar em casa e colocar o aparelho na prateleira do rack, quase perto do chão, ou escondido atrás de um monte de enfeites e livros. O roteador precisa estar em um ponto mais alto, sem objetos em volta que possam bloquear a transmissão do sinal.
Hoje, os roteadores têm design mais bonito que os modelos de dois ou três anos atrás e podem ser integrados ao ambiente sem muitos problemas.
Em casas maiores, ou sujeitas a muitas interferências, o sinal do roteador pode não chegar com qualidade a um determinado cômodo. Nesse caso, a dica é comprar um replicador de sinal, ou “access point”, um aparelho que amplia a cobertura do equipamento original. (GB e JLR)
Acesso gratuito vira isca para golpes digitais
A comodidade de usar redes sem fio em quase qualquer lugar, sem pagar por isso, esconde muitos riscos. Os criminosos digitais desenvolveram uma série de técnicas para capturar os dados que trafegam nas redes Wi-Fi. Isso requer muito cuidado do usuário, tanto na hora de acessar uma rede desconhecida, quanto na de montar uma rede nova em casa.
As ameaças multiplicam-se na mesma velocidade com que as redes proliferam em lugares públicos. Na maioria das vezes, o golpe é montar uma rede com nome idêntico à oficial de um estabelecimento conhecido, ou de um provedor de serviços.
Enquanto espera ser atendida pelo médico ou aguarda o voo que atrasou, a vítima aproveita o tempo vago para ver notícias ou checar a previsão do tempo. Depois de identificar a rede disponível e se conectar, ele começa a navegar na web sem desconfiar de nada, com o acesso a sites e aplicativos ocorrendo em boa velocidade. Por trás dessa aparente normalidade, no entanto, o criminoso está recolhendo senhas e dados pessoais do usuário.
Em geral, os criminosos preferem locais com grande fluxo de pessoas, como aeroportos, para criar redes que não exigem senha para ser acessadas – uma variante do golpe da rede falsa. O sujeito chega apressado, com urgência para mandar ou ler um e-mail e se conecta à rede aberta. Muita gente pensa que está protegida porque fica conectada por pouco tempo. “É rapidinho”, dizem. Por mais rápido que seja, porém, o tempo de conexão costuma ser suficiente para o criminoso agir.
Para não cair nessa armadilha, o internauta deve evitar redes abertas desconhecidas e prestar atenção na hora de acessar redes de bares e restaurantes. Se desconfiar de algumas coisa, o melhor é comunicar o estabelecimento.
Uma opção é assinar um serviço de rede virtual privada, ou VPN. Essa tecnologia, usada geralmente por empresas, cria uma espécie de túnel protegido para a transmissão de dados do usuário dentro do grande duto de informações que trafegam pela internet. Existem diversos serviços do tipo, com assinaturas que chegam a US$ 70 por ano.
Na hora de montar uma rede, um aspecto fundamental é criar uma senha de acesso. Mesmo redes públicas (as de cafés e restaurantes, por exemplo) precisam ter uma senha, diz Fernando Neves, diretor da AirTight, companhia especializada em segurança para redes sem fio. Desconfie se a conexão não pedir nada para você entrar.
Nas redes públicas, a senha é uma forma de impedir que um internauta tenha acesso aos dados de outro, que está conectado no mesmo roteador. Com a senha habilitada, o equipamento consegue criar diferentes canais para cada pessoa que o acessa, fazendo com que as informações fiquem isoladas umas das outras. “O ideal seria ter uma senha individual, criada para cada usuário. Mas se isso não for possível, uma senha geral já ajuda”, diz Neves.
Geralmente, os roteadores oferecem três formatos para a configuração da senha: WEP, WPA e WPA2. As três tecnologias diferem entre si pela forma como protegem as informações. Elas fazem isso por meio da criptografia, uma técnica que consiste em embaralhar os dados sob um determinado padrão. Só quem tem a senha consegue ter acesso às informações. Quanto maior o nível de encriptação, mais segura é a comunicação. Por isso, a tecnologia WPA2, que usa criptografia de 256 bits, é considerada a mais segura. (GB e JLR)
Do Valor Econômico