Por Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa | De São Paulo
Houve um tempo em que “tela grande” era sinônimo de sala de cinema, assim como “telinha” era uma referência clara à televisão. Agora, com as telas sendo adotadas em uma enorme variedade de dispositivos, nem tudo é tão óbvio. De tablets e celulares até impressoras e geladeiras, praticamente qualquer produto eletrônico tem pelo menos um modelo com tela embutida. Até objetos de decoração, como porta-retratos, entraram na onda.
Essa multiplicação foi impulsionada pelo crescimento do mercado de smartphones, que ganhou fôlego nos últimos três anos, popularizando o uso das telas sensíveis ao toque. Ao dispensar botões e comandos complicados, as telas tornaram-se parte da vida de consumidores de todas as idades e classes sociais.
Com o interesse do público, os fabricantes de telas passaram a desenvolver tecnologias mais sofisticadas e expandiram as linhas de produção. O volume maior reduziu o custo unitário, dando às companhias de produtos eletrônicos a possibilidade de testar o mercado com telas maiores ou menores, segundo a conveniência do consumidor. Tamanho virou um atrativo de marketing, tão poderoso quanto a cor e o design.
Os notebooks, por exemplo, ficaram menores. Durante muito tempo, foi difícil encontrar equipamentos com telas inferiores a 14 polegadas. A exceção foram os netbooks, que atraíram a atenção no primeiro momento, mas frustraram as expectativas por causa do desempenho mais fraco e acabaram saindo de cena. O recente avanço no mundo das telas, no entanto, proporcionou que os fabricantes de PCs criassem notebooks completos com telas menores. Nas prateleiras, hoje, os modelos com telas entre 11 e 13 polegadas estão entre os mais vendidos.
Mas o fenômeno mais curioso dos últimos tempos não é a miniaturização. Ao contrário, é a tendência de aumentar as telas. Não é difícil entender por que isso já vinha ocorrendo com os aparelhos de televisão. Telas gigantes são um ótimo complemento para a transmissão digital e em alta definição. Mas o que dizer dos smartphones?
Na pré-história dos celulares, era impossível guardar um aparelho no bolso. Além de grandes demais, os aparelhos do tipo tijolão eram desajeitados – vinham com antenas que precisavam ser levantadas antes de falar. Rapidamente, no entanto, os celulares foram diminuindo de tamanho. O auge da tendência “quanto menor, melhor” foi no ano 2000, quando a Motorola lançou o V8160. Com apenas oito centímetros de altura, o aparelho pesava só 68 gramas e cabia em qualquer bolso, ou bolsa. Não era difícil perder o aparelho, de tão pequeno que era.
A partir daí, os celulares voltaram a aumentar. Os modelos Blackberry e os aparelhos da Palm começaram esse movimento, até que, em 2007, o iPhone definiu o que se tornaria o padrão de mercado. Pouco tempo depois, a coreana Samsung e a HTC, de Taiwan, apresentaram modelos ainda maiores.
A trajetória lembra a de um Gulliver digital, com os smartphones saindo de uma Liliputh com dimensões minúsculas para uma verdadeira terra de gigantes. Em junho, a Sony Mobile lançou o Z Ultra, um smartphone com um formato paquidérmico. São 18 centímetros de altura, por nove de largura, o que equivale a uma tela de 6,4 polegadas. Para efeito de comparação, é quase o dobro do tamanho da tela de modelos como o iPhone 4 e o 4S.
Segundo os fabricantes, as telas cada vez maiores são uma demanda dos consumidores. Em pesquisas feitas no Brasil, a Sony detectou que as pessoas que já têm um aparelho com tela grande tendem a procurar um ainda maior quando vão trocar de smartphone. “Os consumidores querem telas grandes para consumir conteúdo”, disse Ricardo Junqueira, presidente da fabricante japonesa em recente entrevista ao Valor. O Z Ultra chegará ao país até o fim do ano.
Um truque que tem sido usado pelos fabricantes é reduzir o tamanho das bordas dos aparelhos, para preencher o espaço com mais tela. Assim, um equipamento com tamanho típico de 13 polegadas pode, na verdade, ser equipado com uma tela de 14 polegadas. “Em algum momento, você só vai ter tela no aparelho”, disse Pablo Vidal, diretor de marketing da LG.
Tanta variedade criou uma certa confusão. Com smartphones maiores e cada vez mais parecidos com os tablets, os limites entre um e outro dispositivo tornaram-se tênues. A saída foi criar uma nova categoria de produtos. Nasceram os “phablets”, aparelhos que têm telas grandes como as dos tablets, mas podem ser usados para falar como os telefones tradicionais.
Segundo Roberto Soboll, diretor de produtos de telecomunicações da Samsung, o limite para aumentar a tela dos smartphones é simples: eles vão continuar a crescer até o ponto em que seja impossível carregá-los com uma só mão. “Ao passar desse ponto, [o dispositivo] vira tablet”, disse o executivo.
A próxima grande tendência pode estar em gestação. É a capacidade de transformar qualquer superfície em uma tela. Na semana passada, a americana Ubi Interactive colocou à venda, na loja de aplicativos do sistema operacional Windows 8, um programa que torna isso possível. Desenvolvido em parceria com a Microsoft, o aplicativo usa o sensor de movimentos Kinect e um projetor.
O Kinect, criado originalmente para o console de videogame Xbox, mapeia as imagens projetadas e detecta onde o toque foi feito. Depois envia os dados de volta ao computador. A tecnologia ainda é embrionária e cara: só o aplicativo custa entre US$ 150 e US$ 1,5 mil, dependendo dos recursos disponíveis, e ainda é preciso gastar com o projetor e o Kinect. Mas como costuma ocorrer, a tendência é que tecnologias caras caiam rapidamente de preço, à medida que mais gente as usa. Aquela cena do filme “Minority Report”, em que Tom Cruise manipula telas no ar, pode não estar tão longe assim.
Do Valor Econômico