FELIPE MAIA Um mês e meio de trabalho: esse foi o tempo que uma equipe da farmacêutica Boehringer Ingelheim calcula ter ganho ao reduzir o volume de e-mails enviados. O número caiu de 9.515 por pessoa em 2011 para 6.656 em 2012. “Reduzimos em 2.859 o número de e-mails por funcionário. Se você contar que perde cinco minutos com cada mensagem, isso representa um mês e meio de trabalho por ano”, diz Fabio Rodrigues, 38, gerente da empresa responsável pela iniciativa, motivada, segundo ele, pelo fato de a equipe ter se tornado “escrava” da ferramenta. A meta foi alcançada por meio de ações educativas, como mostrar quando enviar uma mensagem era realmente necessário ou quando era mais eficiente conversar pessoalmente ou por telefone. “É errado responder e-mails sobre o mesmo assunto diversas vezes. Se a questão tem mais de três mensagens, na maioria das vezes é melhor resolver o problema pessoalmente ou por telefone”, afirma Sergio Guimarães, diretor da consultoria Academia do Tempo. Esse tipo de aprendizado é necessário para que o e-mail não se torne um “vilão” da produtividade, com os profissionais perdendo tempo para responder a centenas de mensagens, em vez de, efetivamente, produzir. “É preciso entender que enviar e responder e-mails é só mais uma entre as tarefas do dia”, destaca o consultor em gestão do tempo Christian Barbosa, da Triad PS. ORGANIZAÇÃO “As pessoas têm a sensação de que estão perdendo algo por não ver o e-mail, mas é uma crença falsa, a não ser que sua função seja de suporte ou de vendas, por exemplo, que exigem respostas imediatas”, diz o consultor de produtividade Alexandre Borin. E, mesmo nesses casos, o indicado é determinar horários fixos para verificar a caixa de entrada -15 minutos a cada hora, por exemplo.
Essa percepção de que o e-mail pode mais prejudicar do que ajudar o trabalho está fazendo com que algumas empresas tomem atitudes extremas. Na companhia de tecnologia Atos, a meta é zerar o número de e-mails trocados entre os funcionários até o fim deste ano. Em substituição, eles devem usar meios como programas de mensagens instantâneas e ferramentas de colaboração na rede social corporativa, que permite que vários funcionários trabalhem em um mesmo projeto diretamente, editando um relatório em conjunto, por exemplo, sem precisar trocar várias mensagens entre si. Além disso, os funcionários receberam treinamento comportamental sobre o assunto. Um dos assuntos abordados foi a prática de mandar e-mails com cópias para contatos que não estão diretamente envolvidos na questão. Isso faz com que várias pessoas respondam a mensagem para todos os profissionais que estão “copiados”, gerando uma espiral sem fim de e-mails. “A gente chama de ‘o vício da formalização’. Muitas vezes, você precisa necessariamente ‘copiar’ seu chefe na mensagem, mas na maioria dos casos a pessoa tem o costume de mandar a mensagem para gente que não tem nada a ver com o assunto”, afirma Elio Soares, gerente de recursos humanos da empresa para a América Latina. Mesmo nos casos em que é preciso enviar a mensagem para vários destinatários, o indicado é colocar os destinatários em “cópia oculta”, assim, não há o perigo de alguém responder ao e-mail “para todos”, gerando acúmulo de mensagens. Nesse caso, deve-se informar, no texto, quais pessoas estão recebendo o correio eletrônico. Marcelo Kopitar, 42, gerente de processos da Atos, diz que a iniciativa do “zero e-mail” fez com que os funcionários tivessem mais contato. “Antes, a pessoa estava atrás de mim, mas eu acabava mandando e-mail. Agora eu converso e em segundos está resolvida a questão.” “Se o e-mail não é conclusivo, mas, sim, para ‘jogar a batata’ para a frente, melhor não usar”, afirma Eduardo Casarini, 36, presidente da loja Flores Online. Ele conta que, ao entrarem na empresa, os profissionais recebem orientações sobre como usar a ferramenta. Uma das recomendações é escrever textos conclusivos e diretos.
Ele afirma que costuma responder com um “não li, está muito grande” aos e-mails que saem desse padrão. Mesmo nos casos em que é preciso documentar decisões ou o andamento de um projeto, por exemplo, o ideal é que a mensagem do e-mail seja conclusiva, e não contenha dúvidas que precisarão ser sanadas virtualmente. ALTERNATIVAS Na alemã Basf, os funcionários têm acesso a uma espécie de “Facebook interno”, em que podem criar comunidades e fóruns de discussão. “Muitos projetos e arquivos passaram a ser compartilhados, o que torna desnecessário o e-mail e torna as mensagens mais rápidas”, afirma Priscila de Caires Mendes, consultora de comunicação corporativa da empresa. Antonio Cosenza, professor da ESPM, diz que as redes devem ser usadas com bom senso.”É comum encontrar assuntos íntimos em redes sociais de empresas.” Saiba como tornar o e-mail um aliado da produtividade, e não um sugador de tempo
Uso do e-mail exige bom senso, especialmente no ambiente corporativo. Confira dicas de etiqueta para o correio eletrônico
‘E-mail se tornou uma péssima lista de tarefas’, diz empresário
“As pessoas usam o e-mail como uma péssima lista de coisas a fazer”, diz Gentry Underwood, presidente da empresa americana Orchestra. A companhia lançou no começo do mês um aplicativo para iPhone chamado Mailbox, que tem o objetivo de fazer com que a caixa de entrada esteja sempre “limpa”. Isso acontece sem que o usuário apague todas as mensagens -é possível programar um e-mail para que ele volte a aparecer no momento desejado, porque o internauta optou por respondê-lo depois ou porque precisa se lembrar de algo mais tarde. Veja trechos da entrevista. Folha – Por que o e-mail se tornou “uma péssima lista de coisas a fazer”? O que acontece é que, às vezes, nós nos perdemos em meio a tantas mensagens… Tem muita gente que aposta na morte do e-mail, e sua substituição pelas redes sociais, até no mundo corporativo. O que o senhor acha disso?
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Fonte: Folha de S.Paulo |