Por Daniele Madureira | De São Paulo
A taiwanesa MediaTek precisou aprender algumas peculiaridades sobre o mercado brasileiro, onde atua diretamente desde 2006. Inspirada nas lições, a empresa vai lançar mundialmente a tecnologia que permite manter três números, ou chips, diferentes em um mesmo smartphone. Até agora, o sistema da companhia permitia usar até dois números em smartphones e quatro em celulares mais simples – os “feature phones”, que não têm sistema operacional.
Os usuários brasileiros têm hábitos diferentes dos praticados em outros países. Para começar, o consumidor local costuma chamar de “chip” o que o mundo inteiro denomina SIM card. Nesse pequeno componente, são gravadas as informações do assinante, sua agenda, as preferências de configuração, entre outros dados. Mas o mais importante é que o brasileiro se mostra disposto a trocar de chip para conseguir ligar mais barato para assinantes da mesma operadora.
Graças a essa prática, o Brasil se tornou o maior mercado da MediaTek para os chipsets (conjunto de chips que fazem o processamento dos celulares) que suportam mais de um SIM card. A MediaTek compete globalmente no segmento de chipsets com a Qualcomm, a Intel e a Samsung.
“A demanda por smartphones com três SIM cards partiu dos fabricantes brasileiros”, afirmou ao Valor o gerente sênior de marketing e vendas da MediaTek para a América Latina, Sérgio Henrique Abramoff. Entre os principais clientes da empresa no país estão as multinacionais LG e Alcatel, e as brasileiras Venko, Multilaser e Gradiente. Segundo Abramoff, em algumas semanas será lançado o primeiro smartphone do país com três SIM cards, compatível com o sistema operacional Android. O executivo não revela qual será o fabricante, mas o preço do aparelho pode girar em torno de R$ 400.
No Brasil, há 211,5 milhões de celulares pré-pagos, o que representa 80% da base total de usuários – boa parte deles tem um aparelho com mais de um chip. De acordo com a consultoria IDC, 43% dos celulares vendidos em 2012 tinham mais de um SIM card. “O consumidor do pré-pago tem vontade de migrar para um smartphone, mas não quer perder a comodidade de ligar para diferentes operadoras a partir do mesmo aparelho”, disse Abramoff. A prática é observada principalmente entre os profissionais liberais, que já exibem no seu cartão de visitas diferentes celulares, um de cada operadora, disse.
Segundo Abramoff, em outros países, a diferença de tarifas entre as operadoras não é significativa. “Lá fora, quem tem mais de um chip busca garantir uma cobertura melhor, não um preço menor, como é aqui”, disse.
O chipset da MediaTek para smartphones com até dois SIM cards foi lançado primeiro na Ásia e na Europa, em 2011. Naquele ano, a empresa vendeu 10 milhões de componentes, número que saltou para 110 milhões em 2012. Com o novo produto, para três SIM cards, o executivo estima vender 200 milhões de unidades no mundo, só para smartphone. Mais 300 milhões de componentes para celulares mais simples estão previstos para serem vendidos mundialmente neste ano. Segundo Abramoff, a MediaTek responde por um terço da venda global de 1,6 bilhão de chipsets ao ano.
Com 6,5 mil funcionários diretos no mundo, a empresa não tem fábrica própria e terceiriza toda a produção. No ano passado, sua receita foi US$ 3,4 bilhões. A América Latina é o terceiro maior mercado da companhia, depois da Ásia e da Europa. Além dos chipsets, a empresa fornece o projeto completo do celular – com software e design de referência. “Foi a MediaTek que, nos últimos seis anos, ajudou o mercado de aparelhos celulares a se tornar mais acessível”, disse Abramoff. Com isso, a empresa interessada em ingressar no negócio de celulares não precisa contratar engenheiros ou ter uma grande infraestrutura, afirmou.
A MediaTek tem subsidiárias em dez países para o desenvolvimento de design de produtos. No Brasil, seu maior mercado na América Latina, mentém um escritório comercial.
Do Valor Econômico