Na foto, pessoal do Programa NextGen@ ICANN, coordenado por Paulo Marcos Drewiacki do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br)
Por Nivaldo Cleto*
No segundo dia da ICANN83, encontro global sobre governança da internet, realizado em Praga, República Tcheca, os debates se intensificaram em torno de temas estratégicos como a próxima rodada de domínios genéricos de topo (gTLDs[i]), a segurança no sistema de nomes de domínio (DNS[ii]) e a governança dos recursos numéricos da internet. O evento, promovido pela Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN), reúne representantes de governos, setor privado, comunidade técnica e sociedade civil de todo o mundo.
Próxima rodada de novos gTLDs: etapa final de preparação
O programa que permite a criação de novos domínios como .rio, .eco ou .brand está prestes a abrir nova rodada de candidaturas. O foco das discussões foi o Guia do Aplicante (Applicant Guidebook – AGB), manual que reúne as regras para quem deseja registrar um novo domínio. A expectativa é que o processo seja oficialmente aberto em abril de 2026.
A Equipe de Revisão de Implementação (Implementation Review Team – IRT), responsável por assegurar que as regras sejam aplicadas conforme as políticas definidas, destacou a importância da participação dos países em desenvolvimento. Nesse sentido, o Programa de Apoio ao Candidato (Applicant Support Program – ASP) foi apresentado como instrumento para democratizar o acesso, oferecendo suporte técnico e financeiro. No entanto, ainda há desafios para ampliar sua adesão.
A partir da esq., Steve Crocker, um dos pais da internet e Nico Caballero, consultor de TIC no Ministério de Tecnologias da Informação e Comunicação do Paraguai
.Brand: uma oportunidade estratégica para empresas
Na sessão dedicada a domínios .Brand – que são domínios exclusivos para marcas, como .nike ou .bradesco – foram discutidas formas de facilitar a participação das empresas, inclusive com mecanismos para resolver conflitos entre candidaturas concorrentes. O modelo permite que uma marca gerencie diretamente seu domínio, o que traz benefícios de segurança, confiança e marketing digital.
Segurança no DNS: combate ao abuso cresce em prioridade
O Sistema de Nomes de Domínio (Domain Name System – DNS) está no centro das atenções devido ao crescimento alarmante de abusos como phishing, spam e uso de botnets. O Comitê Consultivo Governamental (Governmental Advisory Committee – GAC) discutiu o papel dos governos na mitigação desses abusos, com base em exemplos reais, como o da República Tcheca, que enfrentou ataques sofisticados envolvendo autenticação falsa via BankID.
O Instituto NetBeacon sugeriu novas políticas públicas, chamadas de Processos de Desenvolvimento de Políticas (Policy Development Processes – PDPs), para enfrentar abusos sistemáticos. As propostas incluem restringir o uso automático de ferramentas para registrar domínios em massa e criar sistemas mais rigorosos de verificação de identidade.
Com a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES): Vanda Scartezini, conselheira e diretora e Paulo Milliet Roque, presidente do Conselho Deliberativo
Dados de registro: proteção da privacidade e aplicação da lei
O GNSO[iii] (Generic Names Supporting Organization), estrutura da ICANN voltada aos nomes genéricos, debateu o equilíbrio entre privacidade de dados e a necessidade de acesso rápido por autoridades legítimas. A discussão girou em torno de como responder a pedidos urgentes de informações de domínios, como em casos de ameaças à vida, respeitando normas de proteção de dados.
Governança dos recursos numéricos: revisão do ICP-2
A revisão do ICP-2, documento que orienta a criação e operação dos Registros Regionais da Internet (Regional Internet Registries – RIRs), foi outro ponto alto. O novo texto – chamado provisoriamente de Documento de Governança das RIRs – traz melhorias significativas em auditoria, transparência e mecanismos de proteção contra captura institucional. A ICANN e os próprios RIRs terão responsabilidade compartilhada na implementação dessas novas diretrizes.
Inovação técnica: DNSSEC e identidade digital
A organização ccNSO (Country Code Names Supporting Organization), voltada aos domínios nacionais como .br e .fr, abordou o avanço do DNSSEC (Domain Name System Security Extensions), tecnologia que protege os domínios contra falsificações. Também foi discutido o uso da carteira de identidade digital europeia, com foco em segurança e interoperabilidade.
Conclusão
A ICANN83 mostra que o ecossistema global da internet está em constante evolução. O avanço no processo de novos domínios, o enfrentamento coordenado aos abusos no DNS e a modernização da governança digital refletem o esforço coletivo por uma internet mais segura, aberta e acessível.
Conversamos com Rodrigo De La Parra, presidente da ICANN ALAC, sobre o que a ALAC está fazendo para mitigar os abusos de DNS.
*Nivaldo Cleto é empresário de contabilidade e de certificação digital, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil CGI.br e membro da ICANN Business Constituency – BC