CAROLINE TELL DO “NEW YORK TIMES” Não faz muito tempo, a única forma de desmarcar um compromisso social era pessoalmente ou por telefone. Quando isso acontecia, o esperado era um efusivo pedido de desculpas. Mas agora, quando nossos dedos nos livram de compromissos via mensagens de computador ou celular, as barreiras para dar o cano diminuíram. Não está a fim de sair? Basta digitar um recado às pressas: “Foi mal, não deu para aparecer nesta noite”. E não se preocupe em avisar com antecedência. Quanto mais tarde, melhor. “Enviar um SMS para desmarcar algo é ser preguiçoso e frívolo”, disse o apresentador de TV Andy Cohen. “Você não está dando peso a nada, e isso transforma todos nós em garotos de 14 anos.”
Ashley Wick, de Nova York, organizou recentemente um jantar para apresentar um designer que ela representa a cerca de dez editores. Os convites foram enviados com duas semanas de antecedência. No entanto, no dia do jantar, quase metade dos convidados cancelou sua participação via e-mail. “As regras de etiqueta não parecem mais aplicáveis”, disse Wick. “As pessoas se escondem atrás de um e-mail ou de mensagens de texto para cancelar compromissos ou para fazer coisas que seriam desconfortáveis de fazer pessoalmente.” SEM CULPA “As pessoas não se sentem mal por dispararem um SMS cancelando algo, mas ninguém jamais faria uma ligação e diria: ‘Vamos jantar na semana que vem, porque hoje quero ir a uma festa'”, disse Danielle Snyder, 27, criadora da linha de bijuterias Dannijo. “Quando você diz isso em voz alta, percebe como soa mal.” A suposição de que estamos sempre grudados aos nossos celulares contribui para que as pessoas deixem os cancelamentos para a última hora, sem culpa. “Elas automaticamente pensam que eu vi a mensagem, já que elas mandaram”, disse Jason Binn, fundador da revista “DuJour”. Richard Ling, professor de comunicação da Universidade IT, em Copenhague, cunhou um termo para essas interações sociais azeitadas pela telefonia móvel: “microcoordenação”. Antes do celular, diz ele, as pessoas se planejavam com base em horários e locais pré-estabelecidos, ao passo que agora podem se “microcoordenar”, ou seja, ajustar os planos conforme os fatos acontecem em tempo real, seja um congestionamento ou um serão no escritório. “O telefone celular tornou esse tipo de coordenação muito mais nuançada”, disse Ling. “Podemos ter três ou quatro coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Uma coisa pode dar errado, outra pode acontecer. Ou seja, há uma indeterminação básica com a qual convivemos atualmente.” PLANOS FURADOS A “microcoordenação” é talvez mais evidente entre adolescentes e jovens, que cresceram usando SMS e mensagens instantâneas. A artista plástica Rachel Libeskind, 23, de Nova York, está constantemente navegando por seus círculos sociais no iPhone. Ela marca três ou até quatro compromissos para as noites dos fins de semana, sabendo que há só 60% de chance de comparecer a algum deles. “As pessoas me mandam uma mensagem: ‘Vamos fazer alguma coisa no fim de semana?’, e eu fico com três ou quatro planos à vista para a semana. Em média, mais de metade deles fura”, disse Libeskind. “Os planos sociais que eu faço estão sempre mudando.” Além do mais, não é considerado grosseiro quando amigos dão o cano. “Como há tão pouca coisa envolvida em termos de ter esses planos, não é tão rude”, disse ela. “Está implícito, porque é assim que todo mundo está operando.” TEMPO POUPADO A estilista de moda Cynthia Rowley disse que a vida social movida a celular a permitiu ampliar suas amizades “sem precisar investir tempo cara a cara”. Embora isso possa ofender especialistas em etiqueta, a “microcoordenação” oferece alguns benefícios. “A maioria das pessoas celebra a possibilidade de mudar de planos ou administrar planos de forma fluida”, disse Scott Campbell, professor associado de estudos da comunicação na Universidade de Michigan. “Não precisamos escolher um lugar e nem mesmo uma hora. Podemos simplesmente fazer acontecer em tempo real. Muita gente se entusiasma com isso.” |
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Publicado na Folha de S.Paulo |