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ICANN 68 – Dia 4

ICANN 68

Por Nivaldo Cleto*

No quarto e último dia da ICANN 68, segunda edição virtual do evento, a discussão principal foi a respeito do futuro dos modelos de formação de políticas globais relativas aos nomes e números da Internet frente à atual situação de pandemia. A ICANN sempre contou com um equilíbrio no qual o grosso do trabalho é feito de modo virtual dentro dos diferentes grupos de trabalho, e periodicamente a comunidade se congrega em reuniões presenciais para que possam socializar, avançar projetos e, principalmente, fazer as importantes reuniões face a face nas quais muitos pontos contenciosos acabam sendo acertados.

Com a certeza agora de que a reunião 69 será online (e uma probabilidade alta da edição 70 também ser), a comunidade se encontra com o dever de pensar quais são as maneiras mais eficientes de seguir com os trabalhos, já que esses não podem esperar por uma normalização global. Uma reunião normal da ICANN mobiliza literalmente milhares de pessoas dos mais variados pontos do mundo para uma única localização, tornando muito difícil a retomada desse modelo, já que agora cada país possui um protocolo próprio e contam com listas variadas de quais estrangeiros são permitidos ou não de ingressar em seu território.

Não foi possível evitar comentários sobre o evento de “Zoom Bombing” no primeiro dia da reunião, no qual uma pessoa de fora da comunidade entrou em uma sessão aberta a todos, com centenas de participantes, e tomou o canal de áudio para fazer declarações racistas e desorganizar o fluxo dos trabalhos[1]. Depois desse episódio, a ICANN defensivamente passou todas as sessões para um modo de webinar, que restringiu muito as interações da comunidade. É questionável se essa era uma solução melhor do que enviar senhas para aqueles que estavam propriamente registrados na reunião, pois isso tornou ainda mais difícil a interação e identificação entre os membros da comunidade.

Muito foi falado a respeito de quais são as alternativas existentes, e muitos membros da comunidade demonstraram empolgação por alternativas de realidade virtual que simulam espaços de conferência e similares, enquanto outros expressaram apenas que gostariam de uma melhor administração da plataforma Zoom, que já é utilizada nos trabalhos rotineiros da comunidade, sendo melhor adaptada para uma reunião da escala e necessidade de participação como a ICANN. A ideia de que não fazer reuniões presenciais da instituição diminuiria nosso impacto em termos de geração de carbono foi muito repetida por alguns membros da comunidade.

O CEO, Göran Marby, aproveitou a sessão para enfatizar o estabelecimento do DNS Security Facilitation Initiative Technical Study Group[2], focado em encontrar soluções e fazer recomendações proativas a respeito de como aumentar a segurança do DNS. A formação dessa força-tarefa vem em grande parte em resposta ao ataque de DNS hijacking comandado pelo grupo Sea Turtle[3], que resumidamente obteve controle dos códigos de países de diversos territórios, principalmente asiáticos, e dessa forma conseguiram monitorar todo o tráfego que passava por qualquer website dentro daquele TLD. O “.am”, da Armênia, foi o único a se identificar publicamente como uma das vítimas.

Mark Datysgeld, parceiro da AR-TARC e recém-apontado Conselheiro do GNSO (Generic Names Supporting Organization), comentou sobre a importância de a ICANN ter investido mais atenção em maneiras para os membros da comunidade interagirem entre sessões, o que ocorreu em salas virtuais temáticas de coffee break, nas quais participantes aleatórios da reunião se juntaram para discutir temas como quais estão sendo seus hobbies durante a pandemia e quais séries estão assistindo. Essa interação orgânica é o que permite que a comunidade se veja menos como adversários e mais como pessoas tentando fazer um trabalho.

Katrina Sataki, chair do Conselho do ccNSO (Country Code Names Supporting Organization), mencionou que o ccNSO já tinha mudado antes da pandemia para uma estratégia de trabalhar mais pesadamente com webinars para alcançar seus membros, pois não são todos administradores de códigos de países que possuem a oportunidade de dedicar o tempo e dinheiro necessário para enviar representantes para uma reunião da ICANN. Sataki enfatizou a importância de usar essas oportunidades para tornar esse espaço e conhecimento mais acessível ao invés de menos.

Keith Drazek, chair do GNSO, enfatizou que os três processos de desenvolvimentos de políticas nos quais o GNSO está engajado ainda continuam planejados para uma entrega em 2020, e congratulou todos os envolvidos por não terem reduzido seu comprometimento durante o período de pandemia, de modo que será possível avançar novos temas na pauta em um futuro próximo. Notou que os esforços redobrados em não gerar duplicação de trabalhos que foram muito cobrados em 2019 estão sendo observados e produzindo bons resultados. Drazek retomou o tema da importância do engajamento face a face para que decisões possam ser tomadas pela comunidade.

Manal Ismail, chair do Governmental Advisory Committee (GAC), apontou como a maior dificuldade do grupo a escrita do communiqué, um documento que contem o resumo das recomendações dos governos à ICANN redigido ao fim de cada reunião. O ambiente virtual dificultou em muito a capacidade dos representantes formarem coalizões, procurarem entendimento, e de modo geral congregarem em torno de objetivos específicos. Também mencionou os problemas enfrentados por governos de países com infraestrutura tecnológica, mas limitada em sua participação efetiva.

Os membros brasileiros da Business Constituency (BC) participam ativamente das discussões sobre como otimizar a estrutura da ICANN e como tornar as interações dessa comunidade tão diversa mais fáceis. Estamos já escalados para contribuir com o próximo comentário dessa natureza, que se inicia no próximo mês[4]. Seguimos representando o interesse do pequeno e médio empresário latino dentro deste espaço.

[1] https://www.icann.org/news/blog/important-update-icann68-to-be-held-as-zoom-webinars

[2] https://www.icann.org/news/blog/introducing-the-dns-security-facilitation-initiative-technical-study-group

[3] https://www.wired.com/story/sea-turtle-dns-hijacking/

[4] https://www.icann.org/public-comments/multistakeholder-model-next-steps-2020-06-04-en

 

*Nivaldo Cleto é membro da ICANN Business Constituency e Conselheiro Eleito do Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGIbr

 

 

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