Por Nivaldo Cleto (*)
Neste dia tivemos uma apresentação voltada para as possibilidades futuras e a necessidade de planejamento estratégico para garantir a continuidade e estabilidade da ICANN[i] enquanto comunidade. O foco foi na questão de outras tecnologias de identificadores na Internet que podem ser utilizadas de maneira paralela ou, em um cenário não desejável para nossa comunidade, suplantar as funções do DNS[ii] como o conhecemos.
O foco foi no documento numerado OCTO-034, traduzido “Desafios com Sistemas de Nomes Alternativos”, publicado por um departamento de estudos avançados da organização ICANN, fazendo uma análise aprofundada de como funciona cada sistema de nomes alternativos e uma análise do processo de formulação de políticas de cada sistema deles.
Foi notado que sistemas de nomenclatura alternativos não são novos e muitos já existiram no passado, até mesmo antes da criação da ICANN. A popularidade do blockchain apenas está trazendo de volta a atenção para o tema. As três alternativas mais populares nesse contexto são:
- Handshake[iii] (Derivado de Bitcoin)
- ENS[iv] (Derivado do Ethereum)
- Unstoppable Domains[v] (derivado de Ethereum)
É importante notar que não há necessidade de usar um sistema baseado em blockchain para operar outro sistema de nomes de domínio. Na verdade, pode-se criá-los usando o DNS mesmo. Os próprios registradores credenciados pela ICANN já estão vendendo nomes baseados em blockchain. O ponto de preocupação, no entanto, é que esses não estão vinculados às políticas da ICANN, e possuem políticas próprias.
Essas alternativas trazem ideias diferentes que também são possíveis no DNS, mas que não são uma parte explícita do protocolo no momento. Por exemplo, mecanismos de verificação de identidade e credenciais, ou mecanismos de resolução de disputa integrados dentro do próprio sistema de nomes de domínio. Existe também uma ideia de que seria provido um sistema maior de privacidade, apesar de isso não ser necessariamente verdade.
Apesar de clamarem vantagens, esses sistemas alternativos têm problemas, pois dependem de soluções técnicas novas. Para aplicativos existem técnicas de ponte, mas essas dependem de ação do usuário, como instalar um novo resolvedor de URLs ou navegadores de Internet dedicados. Isso torna rapidamente um problema, pois para cada espaço de nome específico é necessária uma solução ou aplicativo diferente.
Para a comunidade ICANN, a questão que fica mais forte é quais são os procedimentos propostos quando tratamos de questões como de aplicabilidade de leis e forças policiais. Esses sistemas buscam uma facilidade de o registrante ser anônimo e os sistemas gerirem a si mesmos, mas os muitos problemas de segurança na Internet são muito bem conhecidos e já são muito complexos mesmo com um sistema único como o atual.
Como se parece o futuro dos nomes de domínios? Estaremos aqui acompanhando.
(*) Nivaldo Cleto é empresário de contabilidade e de certificação digital, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil CGI.br e membro da ICANN Business Constituency – BC
Fotos – icannphotos