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Com sinal digital, Copa chega ao celular

Tecnologia

Por Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa | De São Paulo

Você já deve ter passado por isso em outras copas do mundo. O expediente foi abreviado para que todos possam assistir ao jogo em casa. Mas com o tráfego pesado, o tempo vai passando e você continua na rua minutos antes de a partida começar. Não se desespere! A saída de emergência pode estar ao alcance da mão. Basta apelar para o smartphone. 

Na Copa de 2010, na África do Sul, já existiam telefones capazes de sintonizar canais de TV, mas a tecnologia ainda dava seus primeiros passos. Agora, o cenário é diferente. A Copa do Brasil será a primeira a ter uma cobertura mais ampla do sinal digital e uma grande variedade de smartphones compatíveis com o padrão. Além dos telefones, também será possível acompanhar as partidas por meio de tablets. O cálculo é que existam quase duas dezenas de dispositivos à disposição dos torcedores. A maioria dos aparelhos chegou às lojas recentemente e alguns deles começam a ser vendidos nos próximos dias. 

Três pontos podem ajudar a convencer o consumidor a ver a Copa pelo celular. O primeiro é o tamanho da tela. Os fabricantes vêm investindo em telas cada vez maiores para proporcionar mais conforto ao usuário na hora de ver vídeos na internet ou fotos. Com a Copa, isso vem a calhar. Jogos de futebol são grandes por natureza – no campo, no tamanho da torcida, no número de jogadores etc. Isso torna desconfortável acompanhar o esporte em aparelhos muito pequenos. As telas maiores e de maior resolução das novas gerações de aparelhos ainda não oferecem a mesma experiência da TV, mas o espectador não corre mais o risco de confundir os times em campo e gritar gol para o adversário. A coreana LG tem um modelo, o L80, com tela de cinco polegadas, enquanto a Sony oferece o Z Ultra, de 6,4 polegadas. As duas companhias afirmam que a tecnologia das telas dos celulares é a mesma usada em suas TVs. 

A migração tecnológica é o segundo ponto que torna o celular mais atrativo para os fãs de futebol. Curiosamente, até pouco tempo atrás, os recursos de TV digital estavam limitados aos aparelhos mais simples, os chamados “feature phones”. Nos smartphones, mais avançados, não dava para ver TV. Essa situação se deve a uma escolha estratégica dos fabricantes. Muitos fornecedores decidiram embutir o recurso de TV nos aparelhos mais baratos porque eles eram os mais vendidos. O volume compensava o investimento extra. Nos smartphones, dirigidos a um público menor, isso não valia a pena. 

Mas a situação mudou. Os smartphones caíram de preço e passaram a ser dominantes no mercado. Hoje, representam mais da metade das vendas de aparelhos no Brasil. A mudança levou os fabricantes a incluir o recurso de TV digital nos produtos. Também colaborou a decisão do governo federal em conceder benefícios fiscais para a produção local de equipamentos capazes de captar o sinal de TV digital. 

O consumidor, agora, tem opção de comprar um celular compatível com TV digital em várias faixas de preço. O Z Ultra, um dos mais caros, custa cerca de R$ 2,1 mil. O Motion.Plus, da CCE, sai por volta de R$ 500. 

O design é o terceiro ponto a favor. Além de grandes, pesados e desajeitados, os primeiros celulares tinham antenas, sem as quais era impossível falar. Algumas eram retráteis, outras fixas. Os avanços na tecnologia e no desenho dos produtos limou as antenas, que passaram a ser vistas como ultrapassadas. 

Com a TV digital, os celulares voltam a ter antenas, para que seja possível sintonizar os canais. A diferença é que as antenas, agora, são mais discretas. No Moto E, da Motorola, trata-se de um acessório que acompanha o aparelho. A antena lembra um pequeno cabo que é plugado na entrada do fone de ouvido. No Lumia 630, da Nokia, o próprio fone de ouvido funciona como antena. Outros fabricantes, como a LG, preferiram usar a antena de metal retrátil, que o consumidor pode esconder quando não estiver vendo TV. 

Apesar do apelo da Copa, os fabricantes não estão usando os recursos de TV digital para anunciar os novos aparelhos. As empresas parecem ter adotado uma posição prudente na área de publicidade e marketing para evitar eventuais conflitos com a Fifa. Só os patrocinadores oficiais do torneio têm permissão para usar a Copa do Mundo e outros elementos associados ao campeonato na divulgação de seus produtos e serviços. Entre os fabricantes de celulares, a única empresa que está no grupo de patrocinadores oficiais é a japonesa Sony. 

Ver o jogo na tela do celular pode não ser uma saída apenas para quem está na rua na hora da partida. Mesmo quem conseguiu ingresso e vai acompanhar o jogo dentro do estádio pode se beneficiar da tecnologia. A Fifa não permite a exibição de “replay” das jogadas nos telões instalados nas arenas. O motivo, segundo a organização, é evitar polêmicas durante a realização da partida. 

Quem tem um celular com TV poderá fazer o tira-teima por conta própria. Alguns aparelhos contam, inclusive, com o recurso de gravação. Com a facilidade proporcionada atualmente pelos softwares de edição de vídeos, dá para fazer seu próprio compacto do jogo para mostrar aos amigos e guardar de lembrança. 

Para os fabricantes, o efeito da Copa na venda de smartphones com TV digital pode durar mais que os 30 dias da disputa. Essa categoria de aparelho representa, hoje, apenas 10% dos telefones vendidos no país, apesar de a tecnologia já estar disponível no mercado há cerca de sete anos. Segundo Bárbara Toscano, gerente de marketing de celulares da LG, o recurso será uma peça importante nos modelos que serão lançados nos próximos anos. “Os brasileiros não só amam o futebol, como gostam muito da TV em geral.”

Hoje, 65% do território nacional está coberto pelo sinal da TV digital, embora esse cenário seja variado. Dependendo da região, há um ou mais canais disponíveis sob a tecnologia, explica Marcel Inhauser, especialista em produtos de mobilidade da LG. Até 2016, a abrangência será de 100% do país, de acordo com o cronograma estabelecido pelo governo.

 Com tanta modernidade, é possível que os mais tradicionais se lembrem com saudade dos velhos radinhos de pilha. Muita gente ainda tem o costume de ver o jogo na TV com o rádio ligado. Para esses saudosistas estão disponíveis novas versões do velho companheiro. Um modelo da brasileira Mondial sintoniza emissoras AM/ FM e até o áudio da TV. Opções para ver e ouvir os jogos não faltam. A torcida, agora, é que cada partida seja um espetáculo.

 Do Valor Econômico.

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