[ICANN 62]

ICANN| 62 – PANAMÁ - Dia 5

Por Nivaldo Cleto*

O dia final da ICANN dentro da Business Constituency (BC) se destacou pela reunião aberta na qual algumas das prioridades do grupo foram debatidas perante a comunidade em geral, das quais destacaremos aqui a Open Data Initiative (ODI), projeto que já seguimos há diversas reuniões, e o Latin American Business ICANN Participation Study, um importante estudo liderado pela própria comunidade da latina da BC.

Tivemos a oportunidade de ouvir diretamente dos líderes do projeto ODI, que se consiste em levantar os dados acumulados pela ICANN ao longo dos anos em diversas dimensões e os converter em “datasets” que possam ser usados para conduzir pesquisas independentes a respeito da instituição, disponibilizando desde dados brutos sobre as operações técnicas de nomes e números até dados até então desconhecidos como o volume de comunicação das diferentes listas de e-mail.

Existe suporte muito substancioso a esse projeto vindo de diferentes núcleos da BC. O chefe de políticas Steve del Bianco sempre foi um apoiador, inclusive demandando em diversas ocasiões um orçamento maior por parte da ICANN para o projeto. Denise Richards, representante da Facebook, interage com o projeto desde o início buscando maior aproximação com o desenvolvimento.

O pesquisador chefe contratado para desenvolver o ODI, Jay Daley, nos atualizou explicando que apesar dos atrasos, eles se encontram em um momento no qual é realista começar a se pensar no lançamento de datasets para que a comunidade os avalie, mas como eles não possuem uma percepção clara de quais são os dados que geram maior interesse, foi aberta uma consulta por meio do sistema de Comentários Públicos (Public Comments) da ICANN no qual expuseram quais dados estão disponíveis e em que estado se encontram.

Existem alguns dados que consideramos mais prioritários para o desenvolvimento de negócios da América Latina dentro desse espaço. É o caso dos dados detalhados anonimizados de participação nas reuniões tanto de público geral como pelos programas de apoio, assim como também os dados brutos da investigação interna de “accountability” da ICANN que detalham dados de transparência da instituição, mas atualmente estão contidos num painel interativo no website deles, sem dar possibilidade de estudo mais minucioso das informações.

Seguiremos firmes acompanhando esse projeto, sempre priorizando a defesa do ponto de vista do empresariado latino dentro da Governança da Internet, buscando tornar nossa participação mais significativa e melhor informada. O comentário está em vias de ser fechado e estamos participando do processo de composição do comentário oficial da BC no tema.

O segundo tema do dia que destacaremos é o Latin American Business ICANN Participation Study, liderado por Andrew Mack (AMGlobal), um forte parceiro dos membros latinos da BC que tem auxiliado nossa comunidade a encontrar espaço nessa arena global há tempos. Contando com o suporte de um time de pesquisas sul americano e em parceria com a AR-TARC e o time latino de funcionários da ICANN, esse estudo visa entender quais são os fatores que limitam a participação desses atores na BC, e o que pode ser feito para melhorar a questão.

O projeto busca não só clarificar os desafios e codifica-los, mas sim oferecer métodos de participação aprimorados e fornecer alternativas para que a BC continue a crescer no Sul Global. Para chegar a esses resultados, estão sendo conduzidas entrevistas com uma grande variedade de líderes empresariais da região, para que seja possível entender quais são as estruturas já estabelecidas nas empresas para lidar com essas questões, mais do que simplesmente compilar as queixas.

Algumas descobertas iniciais interessantes mostram que nos últimos dois anos as reuniões da ICANN viram uma participação média de 4% da região latino americana, um número baixo mesmo se considerarmos que não houve nenhuma reunião na região durante o período. Enquanto isso, a participação “empresarial geral” – que não é relativa à indústria de domínios – foi de 12%. A reunião de San Juan mostrou um crescimento de participação para 25% do público latino, mas a participação empresarial permaneceu em 13%. Ou seja, faltam empresários latinos na ICANN.

Outro dado relevante é que quando olhamos para o programa de participação da ICANN mais conhecido, o Fellowship, vemos uma discrepância entre o número de convocados da Sociedade Civil e aqueles dos Negócios, com os civis conseguindo três vezes mais bolsas do que os empresários que muitas vezes são de pequeno porte e pelas próprias regras do programa são sempre de regiões em desenvolvimento; ou seja, precisam do apoio. O estudo investigará melhor a dinâmica dessa seleção.

A maioria dos desafios que são esperados de serem identificados caem em seis categorias, que são: Conscientização (Awareness), Linguagem (Language), Complexidade (Complexity), Cultura de Negócios (Business Culture), Filtragem (Filtering) e Lógica de Negócios (Business Rationale). Um fator importante, por exemplo, é que todas as transações de dia-a-dia da BC são feitas em inglês, e o conhecimento dessa língua na América Latina ainda é menor do que 50%, com força ainda menor entre os mais velhos, que são mais prováveis de estar numa posição de participar da BC.

O projeto já está iniciado e a fase de entrevistas está ocorrendo entre julho e setembro de 2018. Aqueles que se interessarem por saber mais ou que gostariam de ser entrevistados podem entrar em contato com qualquer membro da BC para mais informações. A data prevista de entrega é durante a reunião 63, a de Barcelona, e se espera que a comunidade toda possa apreciar uma apresentação dos achados em uma sessão pública no tema.

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*Nivaldo Cleto é conselheiro do CGI.br membro da ICANN Business Constituency