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Você gosta do seu smartphone? As bactérias também

Tecnologia
Por Caroline Porter | The Wall Street Journal

Quando a proximidade do celular em relação à orelha, nariz e boca é combinada com o fato de o aparelho ser quentinho, do jeito que as bactérias gostam, o resultado pode ser prejudicial à saúde.

Essa ameaça, diz Jeffrey Cain, presidente da Academia Americana de Clínicos Gerais e diretor de medicina familiar do Hospital das Crianças de Colorado, é quase sempre ignorada. “Algumas coisas que julgamos ser pessoais na verdade são mais públicas do que a gente imagina.” Bactéria, vírus e outros agentes infecciosos num telefone podem causar terçol, gripe ou diarreira, diz Cain.

Para quem quer manter a tela de toque limpa, há um desacordo entre o que médicos e pesquisadores recomendam e o que as fabricantes de smartphones sugerem para higienizar os aparelhos.

Embora haja produtos oferecidos especificamente para limpeza de celulares, eles às vezes podem estragar o verniz da tela ou não remover 100% dos germes.

Muito embora computadores, chaves, canetas e telefones fixos possam abrigar germes, os celulares se tornaram um apetrecho sempre perto para muitos usuários, nunca longe do travesseiro, da esteira na academia de ginástica ou da mesa de restaurante.

“Estamos alimentando essas pequenas criaturas”, diz Michael Schmidt, professor e vice-presidente de microbiologia e imunologia da Universidade de Medicina da Carolina do Sul. “Todo mundo já viu aquela mancha gordurosa [na tela de toque]. Onde há gordura, há bichos.”

Um laboratório testou oito celulares escolhidos aleatoriamente num escritório em Chicago para esta reportagem. Os aparelhos não mostraram sinais de E. coli ou estafilococos. Mas todos os fones mostraram números mais altos do que o normal para coliformes, uma bactéria que indica contaminação fecal. Nos oito celulares testados pelo HML Labs, havia cerca de 2.700 a 4.200 unidades de coliformes fecais. Em água potável, o limite é de menos que uma unidade por 100 ml de água.

“O resultado é bem ruim”, disse Donald Hendrickson, presidente do laboratório e professor emérito de microbiologia médica na Universidade Ball State. Ele diz que os resultados sugerem falta de lavar as mãos e de higiene apropriada.

O HML também testou quatro métodos de limpeza: água, álcool e dois produtos de limpeza, um chamado Windex, para limpeza de vidros em geral, e Nice’N Clean, um lencinho umedecido para eletrônicos. O álcool foi o melhor, limpando quase 100% das bactérias. Água foi o método menos eficiente.

Emily Evitt, de 29 anos, que mora em Culver City, Califórnia, e trabalha como advogada de propriedade intelectual, diz que limpa o teclado do computador e o telefone no trabalho toda manhã, mas que não encontrou uma solução para seu iPhone que limpe bem e não estrague a tela.

“Vejo gente na academia com seus iPhones e penso: ‘Eca'”, diz Evitt, que evita levar seu telefone à ginástica mas o leva para almoços de trabalho. O marido de Evitt, Mark, limpa os celulares do casal com álcool na parte traseira e água na frente.

Fabricantes de celulares alertam contra o uso da maior parte dos produtos de limpeza domésticos – o que pode deixar os donos dos aparelhos num dilema.

“É um problema, porque muitos fabricantes não dizem qual é o verniz que cobre o telefone”, diz Schimidt. “É difícil dizer se álcool vai remover a camada que repele óleo e danificar a tela.” A fabricante Gorilla Glass, que fornece telas para várias marcas de smartphone, afirma que uma de suas telas tem um verniz fácil de limpar que “sobrevive a seguidas limpezas”.

Uma porta-voz da Apple mostrou a um repórter o manual do cliente, que proíbe explicitamente o uso de “limpa-vidros, detergentes domésticos, sprays de aerossol, solventes, álcool, amoníaco ou abrasivos”. O conselho da BlackBerry é semelhante. Seu manual afirma: “Não use líquidos, produtos de limpeza com aerossol, nem solventes no seu BlackBerry, nem perto do dispositivo”. Um porta-voz do Android da Google Inc. diz que os diversos fabricantes do seu celular não têm uma política oficial quanto a métodos de limpeza. Todos os representantes da empresa para os smartphones Android, BlackBerry e iPhone disseram que não têm marcas específicas de produtos de limpeza para recomendar.

Boh Ruffin, engenheiro de aplicações na Corning Gorilla Glass, disse que os produtos de limpeza comuns, tais como lenços umedecidos com álcool, não vão prejudicar o desempenho do vidro, embora ele não quisesse falar diretamente sobre o desempenho dos smartphones.

“A única coisa que pode afetar o vidro é algum tipo de ácido clorídrico”, diz Ruffin. “Os panos de limpeza de microfibra são ótimos para remover a oleosidade e a sujeira.”

Esses panos para limpeza dos celulares geralmente têm uma taxa de sucesso de 99%, que o Dr. Schmidt não considera suficiente. “Com algumas bactérias, basta ingerir apenas dez organismos para ficar doente.”

 

Valor Econômico 

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