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TVs gigantes custam mais que um carro

Tecnologia

 Por Gustavo Brigatto | De Las Vegas (EUA)

Joe Stinziano, da Samsung, apresenta modelos com a tecnologia UltraHD, cuja definição pode ser até quatro vezes superior à das TVs atuais de maior resolução

Painéis luminosos e vídeos coloridos não são novidade em Las Vegas ou na Consumer Electronics Show (CES), a exposição de tecnologia que todos os anos domina as atenções na cidade, durante alguns dias de janeiro. Mas nesta edição da feira, em particular, as projeções usadas pelos fabricantes para exibir seus produtos parecem mais coloridas e vibrantes que o usual.

O motivo disso é o uso de televisores com telas de resolução ultra-alta – o 4K, ou UltraHD. A tecnologia, que rapidamente se converteu em uma das grandes apostas dos fabricantes para os próximos anos, permite exibir conteúdo com definição até quatro vezes superior à mais alta resolução disponível nos televisores atuais. Com o novo padrão, é possível ver nitidamente cada detalhe de uma transmissão. Atores e atrizes preocupados com as rugas que se cuidem!

Os primeiros aparelhos desse tipo chegaram ao mercado no segundo semestre do ano passado pela mãos da LG e da Sony. Com telas de mais de 80 polegadas – o equivalente a quatro aparelhos de 42 polegadas – os aparelhos chamaram atenção não só pela alta qualidade das imagens, mas também pelos preços. Nos Estados Unidos, um aparelho desse tipo pode custar US$ 25 mil, mesmo preço que o carro híbrido da Toyota, o Prius. No Brasil, os preços são igualmente altos: entre R$ 40 mil e R$ 100 mil. Mesmo assim, há demanda. “Vendemos todas as unidades disponíveis e temos uma lista de espera”, disse Fernanda Summa, gerente de marketing de TVs da LG no Brasil.

De acordo com a Consumer Electronics Association (CEA), associação que organiza a feira, mais de 20 modelos de TVs UltraHD serão apresentados durante o evento. A previsão é que os produtos cheguem ao mercado até o fim do ano.

Os anúncios estão sendo feitos por marcas tradicionais como LG, Samsung, Panasonic e Sony, mas também por nomes bem menos conhecidos, como a Skyworth, de Hong Kong. Além de modelos de 84 polegadas, as companhias vão produzir aparelhos com telas de 55 e 65 polegadas, que são mais baratas e podem ajudar a acelerar a venda dos aparelhos. Os preços desses equipamentos menores, no entanto, ainda não estão definidos. O custo das novas tecnologias costuma cair rapidamente, à medida que elas se disseminam entre o público. A princípio, porém, elas costumam ser acessíveis a poucos consumidores abastados, que não se importam em dispender somas altas para serem os primeiros a ter um novo dispositivo. “Talvez não custe tanto quanto um carro. Quem sabe uma moto”, brincou um funcionário no estande da Sony.

A introdução do UltraHD ocorre cerca de seis anos depois da chegada dos primeiros aparelhos de alta resolução ao mercado. O movimento está diretamente ligado à busca por lucratividade dos fabricantes de TVs. No ano passado, as receitas com a venda de TVs LCD no mundo caíram 11%, segundo dados preliminares da CEA. Para 2013, a projeção é de um recuo de 2%. As quedas foram causadas pelos agressivos cortes de preços feitos para atrair a atenção dos consumidores, que nos últimos dois anos têm preferido gastar mais com tablets e smartphones.

Para melhorar suas margens, os fabricantes têm apostado fortemente na venda de aparelhos com telas grandes, as chamadas “jumbo TVs”, com tamanhos que variam de 50 a até 100 polegadas. Nesses aparelhos, é possível obter resultados quatro a cinco vezes maiores por polegada em comparação com modelos entre 20 e 30 polegadas. Com telas maiores, é preciso aumentar a resolução para não prejudicar a experiência dos consumidores. Por isso, o esforço para fazer o UltraHD emplacar.

Mas a adoção da tecnologia será lenta. A estimativa da CEA é que as TVs UltraHD atinjam uma participação de apenas 2% do mercado mundial em 2015. O principal impeditivo para sua assimilação será o preço. “Será um mercado segmento”, disse ao Valor Steve Bambridge, diretor da empresa de pesquisa GfK. “Mas os fabricantes estão dispostos a trocar volume por melhores margens”, afirmou o analista. Na avaliação de Fernanda, da LG, essa participação de mercado é razoável. “É bastante para um produto que ainda é caro e não tem escala”, disse a executiva.

O repórter viajou a convite da LG

Painéis de Oled começam a decolar

Além das resoluções ultra-altas, conhecidas também como 4K ou UltraHD, outra novidade na área de televisores que chama a atenção na CES em 2013 são os aparelhos com painéis Oled (sigla em inglês para diodo orgânico emissor de luz). A principal vantagem da tecnologia é a fabricação de TVs com menor consumo de energia e muito finas.

Um modelo da LG que começou a ser vendido na Coreia na semana passada e chegará aos Estados Unidos em fevereiro tem a espessura de três cartões de crédito empilhados. O preço: US$ 12 mil por um aparelho de 55 polegadas. A expectativa é que o aparelho chegue ao Brasil até o fim do ano.

Ontem, a LG e a Samsung apresentaram aparelhos Oled com telas curvas, que, segundo as companhias, oferecem melhor ângulo de visão. Não há previsão de lançamento para os produtos. O Oled nunca decolou comercialmente por conta do preço dos painéis. As telas são muito flexíveis e suscetíveis a quebra, o que aumenta o custo para quem fabrica.

Recentemente, Samsung e LG, que têm suas próprias empresas de fabricação de telas, anunciaram ter atingido avanços na eficiência da produção, o que lhes deu ânimo para apostar na tecnologia. As duas já usam a tecnologia em seus celulares e pretendem usar o conhecimento para sair na frente dos concorrentes.

“Montar uma fábrica de Oled depende de um investimento muito alto, que pouquíssimos fabricantes têm condição de fazer. Por isso, se algum fabricante quiser ir para o Oled, terá que falar com Samsung ou LG”, disse ao Valor, Steve Bambridge, diretor da empresa de pesquisa GfK. Em meados de 2012, a Sony e a Panasonic anunciaram uma parceria para reduzir custos de fabricação de painéis Oled. O objetivo é atingir produção em massa neste ano. Na avaliação de Bambridge, o Oled só começará a ganhar relevância na indústria de TVs em cinco anos. (GB)

Adoção de 4K depende de conteúdo

Por De Las Vegas (EUA)

Assim como aconteceu durante a introdução de tecnologias novas como a alta definição e 3D, os fabricantes de televisores correm para criar conteúdo que possa tirar proveito da alta qualidade de imagem dos aparelhos com definição Ultra-alta, ou 4K. Hoje, só cem filmes estão disponíveis no mercado com resolução tão precisa.

Um atalho usado pelos fabricantes para acelerar a oferta de conteúdo é a conversão do que está disponível atualmente. Mas esse recurso não permite explorar todo o potencial da definição ultra-alta. Para conseguir isso, é preciso filmar em 4K. A JVC, Sony e Red Digital já possuem câmeras com essa tecnologia.

Paralelamente ao lançamento de novos televisores 4K, na segunda-feira, a Sony apresentou dois novos modelos de câmeras profissionais e o protótipo de uma câmera para consumidores. A fabricante japonesa também anunciou o lançamento de um serviço de vídeo no estilo do Netflix com conteúdo 4K.

Durante evento para imprensa na Consumer Electronic Show (CES), em Las Vegas, Kazuo Hirai, executivo-chefe da Sony, destacou que muitos filmes já são capturados em 4K, mas passam por um processo de redução da resolução para serem lançados. “Queremos incentivar a produção de 4K no cinema, na TV e na publicidade”, disse. A estratégia da Sony, que atua nas áreas de eletrônicos, música, cinema e TV, é usar todos esses ativos para promover a tecnologia.

Nos Estados Unidos, a Fox Sports tem feito transmissões de futebol americano com 4K. A tecnologia é usada para dar qualidade aos replays das jogadas. No Brasil, a TV Globo vem fazendo testes com a tecnologia. No começo do ano, o Carnaval do Rio foi filmado em 4K em parceria com a Sony. (GB)

Do Valor Econômico

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